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Um novo Exército na Líbia

Por CLIFFORD KRAUSS

TRÍPOLI, Líbia - Os soldados do novo Exército Nacional Líbio ainda não marcham em compasso, nem mantêm formações retas. Alguns atendem celulares quando deveriam receber ordens. Outros fumam durante exercícios.

"Você não verá uma força armada realmente boa", disse o general Abdul Majid Fakih, instrutor na academia militar sob o coronel Muammar Gaddafi e que abandonou seu posto mais tarde, enquanto supervisionava um treinamento. "Estamos apenas começando a construir o exército."

A Líbia nunca teve um Exército nacional realmente profissional -um exército que não fosse a ferramenta pessoal de um rei ou ditador e que não fosse mantido fraco e dividido propositalmente, para evitar golpes de Estado. A construção de um Exército, um dos alicerces de um Estado moderno, pode ser a tarefa mais difícil e importante que o novo governo interino tem pela frente.

Apenas um Exército respeitado vai poder persuadir ou forçar as várias milícias concorrentes e fortemente armadas em todo o país a se desarmarem e se unirem sob uma liderança unificada.

O desafio foi ressaltado no mês passado, quando uma milícia da cidade de Zintan capturou um dos filhos de Gaddafi, Seif al Islam Gaddafi, sem qualquer ajuda do Exército, e então se recusou a entregá-lo ao governo central.

O Exército vem promovendo paradas militares em todo o país, na tentativa de conquistar respeito. Mas mesmo os oficiais da nova força dizem que enfrentam dificuldades em criar um clima de veneração nacional em torno do exército e em romper com os hábitos antigos de lealdade dos oficiais a um líder forte ou outro.

Oficiais dizem que faltam quartéis, uniformes, veículos, coturnos, rádios, até mesmo faroletes ao novo Exército, que conta com alguns milhares de homens e inclui muitos soldados que desertaram do Exército de Gaddafi.

O Exército está sendo formado por comitês em diferentes cidades, seguindo o modelo do grupo diversificado de milícias que travou a guerra contra a ditadura. E, fato que talvez seja mais preocupante, as milícias espalhadas pelo país já vêm se negando a seguir as ordens do Exército.

Recentemente, em sua primeira missão, o Exército enviou cem soldados a Al Maya, povoado situado a oeste da capital, para separar duas milícias que estavam se enfrentando e retomar uma antiga base do exército. Seu êxito em negociar um acordo provisório entre as milícias -depois de quatro dias de combates que deixaram pelo menos 13 mortos- foi elogiado.

Mas uma das milícias, de Zawiyah, já quebrou a promessa que fez de guardar suas armas em casa, tendo montado uma barreira na principal estrada a oeste da base do exército, como sinal de resistência. Os milicianos dizem que não vão sair de lá. Enquanto isso, os soldados do Exército permanecem na base e estão pintando seu muro externo de branco.

"Não podemos mandar a milícia entregar suas armas", disse o capitão Hakim al Agouri, comandante do Exército em Al Maya. "Há gente que não vai entregar suas armas. Se for esse o caso, não haverá estabilidade na Líbia."

Diederik Vandewalle, especialista em Líbia no Dartmouth College, em New Hampshire, disse que será difícil para o novo Exército satisfazer "o primeiro requisito de qualquer Estado moderno: deter o monopólio da violência". Para ele, "é preciso imbuir os soldados de um senso de identidade nacional, e essa identidade precisa ser ao nível nacional. Mas as milícias têm sua identidade ligada a seus próprios grupos ou cidades".

O líder do Exército em Trípoli, Abdel Hakim Belhaj, concordou sbre o desafio. "Não podemos ter um Exército pautado por agendas pessoais", disse. "O Exército tem que ser profissional e leal."

Líderes civis afirmam querer que as milícias sejam totalmente desarmadas em questão de semanas, mas oficiais dizem que isso levará vários meses. O general Fakih afirmou que o Exército está preparando "muitos planos" para desarmar as milícias.

Esses planos podem ser necessários. Na estrada que parte da base do Exército em Al Maya, Ali Dow Mohammed, chefe da milícia de Zawiyah no comando de um checkpoint fortificado, disse: "O conselho de Zawiyah vai decidir o que faremos com nossas armas".

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