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Dinheiro & Negócios

Questão de Justiça e de um bom café

A Fair Trade USA quer aprovar mais produtos para ajudar mais produtores, diz o presidente Paul Rice

Por WILLIAM NEUMAN

Uma polêmica estourou no movimento do "comércio justo", que se propõe a tirar camponeses da pobreza nos países em desenvolvimento, ao lhes oferecer um preço adicional por produtos como café, cacau e bananas. A Fair Trade USA, principal entidade desse movimento nos EUA, irritou críticos ao anunciar sua decisão de romper com o mais importante grupo mundial do comércio justo e de fazer amplas mudanças na lista de produtos que recebem o seu selo de aprovação.

As mudanças incluem dar a designação de comércio justo ao café de grandes plantações, o que era proibido. A entidade também quer colocar seu selo em produtos que tenham 10% de ingredientes vindos do comércio justo, enquanto em outros países o limite é 20%.

O grupo diz que as mudanças irão beneficiar mais camponeses e trabalhadores pobres no mundo todo, e estimulará grandes empresas a venderem mais produtos do comércio justo. Em 2010, as vendas de produtos desse tipo alcançaram US$ 5,8 bilhões em nível mundial, e US$ 1,3 bilhão nos EUA. A Fair Trade USA disse que pretende duplicar suas vendas até 2015.

Críticos acusam a Fair Trade USA de atenuar suas regras, motivada talvez pela perspectiva de receber maiores comissões. Alguns vendedores de produtos do comércio justo temem que pequenos cafeicultores percam seu espaço no mercado para as grandes plantações, e que as empresas tenham um incentivo para incluir em seus produtos apenas um mínimo de ingredientes vindos do comércio justo.

"É uma traição", disse Rink Dickinson, presidente da Equal Exchange, de Massachusetts, pioneira importadora de café, chocolate, chá e bananas do comércio justo. "Eles [Fair Trade USA] perderam sua integridade."

Paul Rice, presidente da Fair Trade USA, rejeitou as críticas de que estaria querendo aumentar seu faturamento. "Quanto mais aumentarmos o volume, mais poderemos aumentar o impacto [do comércio justo]", afirmou.

Segundo ele, a Fair Trade USA paga comissões exageradas à Fairtrade International -cerca de US$ 1,5 milhão no ano passado- e recebe pouco em troca.

Rob Cameron, presidente da Fairtrade International, disse que a organização não vai rebaixar seus padrões. "O melhor que podemos fazer é garantir que iremos permanecer fiéis aos princípios que nos trouxeram até onde estamos", disse ele.

A polêmica tem surpreendido muitas empresas que vendem produtos do comércio justo. Para os consumidores que prestam atenção à origem e à forma de produção da sua comida, o resultado pode ser uma confusão diante da proliferação de selos concorrentes de comércio justo.

O café, que Rice disse representar mais de 70% do comércio justo nos EUA, é o produto que está no centro dessa disputa.

A torrefação Green Mountain, que se autodenomina o maior comprador mundial de café do comércio justo, disse que vai continuar trabalhando com a Fair Trade EUA, e que pretende aumentar a quantidade desse café na matéria prima usada.

A empresa está participando com a Fair Trade USA num projeto-piloto que envolve um cafezal orgânico de 200 hectares no Brasil -lavoura que anteriormente seria grande demais para receber o certificado de comércio justo.

"Nosso atual compromisso com os pequenos agricultores continua intacto", disse Sandy Yusen, assessora de imprensa da Green Mountain. Ela disse que em 2010 a empresa pagou US$ 1,5 milhão em taxas de licenciamento para a Fair Trade USA.

A Starbucks, que tem cerca de 11 mil lojas nos EUA, também disse que pretende manter sua parceria com a Fair Trade USA. Mas a rede afirmou que ainda não decidiu se colocará o selo de comércio justo no café oriundo de grandes propriedades. Segundo a rede Starbucks, cerca de 8% do café usado em 2010 nas suas operações no mundo todo vieram de lavouras ligadas ao comércio justo.

Mais de 20 países têm organizações que concedem os selos de comércio justo. A Fairtrade International tem um logotipo padrão que aparece nas embalagens na maioria dos países.

A maioria dos programas de comércio justo no mundo já aceita bananas, chá e flores cultivados em grandes propriedades. Mas, tradicionalmente, o café e o cacau do comércio justo vêm de pequenas propriedades organizadas em cooperativas. Os produtores recebem um adicional para usar em projetos comunitários, como escolas e ambulatórios.

Seth Goldman, cofundador da Honest Tea, que já pagou US$ 37 mil para licenciar chás junto à Fair Trade USA, disse que a polêmica levou sua empresa a examinar mais de perto o funcionamento do comércio justo. Ele disse que a disputa é uma confusão, mas acrescentou: "Abrir uma lata de minhocas nos dá uma chance de entender o que há dentro da lata".

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