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Petróleo em Uganda: de dádiva à maldição

Por JOSH KRON

CAMPALA, Uganda - Quando reservas com bilhões de barris de petróleo foram encontradas em Uganda, há cinco anos, parecia uma dádiva para este país pobre, sem acesso ao mar. Quase 40% da população sobrevive com menos de US$ 1,25 por dia, de acordo com o Banco Mundial. Mas daqui a alguns anos, quando o petróleo começar a jorrar, um rendimento anual de até US$ 2 bilhões pode trazer a prosperidade a Uganda.

No entanto, há crescentes preocupações de que o petróleo pode vir a ser mais uma maldição do que uma dádiva. Uganda é considerada por especialistas internacionais como uma das nações mais corruptas do mundo, e mesmo antes do início da produção petrolífera vários altos funcionários do governo, incluindo o primeiro-ministro, foram acusados de embolsar propinas milionárias das companhias do setor.

Os escândalos podem retardar o início da produção, colaborando para a já elevada volatilidade do quadro político em Uganda, recente cenário de um dos mais ativos movimentos de protesto da África Subsaariana.

O Parlamento de Uganda aprovou em outubro, numa sessão extraordinária, o congelamento de todos os contratos petrolíferos e o início de investigações sobre líderes do governo acusados de receberem dinheiro da Tullow Oil, uma empresa britânica que estava prestes a assinar um contrato de US$ 2,9 bilhões com Uganda e com outras duas companhias para extrair o petróleo ugandense. A Tullow negou as acusações.

Apesar de governar há quase 26 anos e de ter sido reeleito com tranquilidade no ano passado, o presidente Yoweri Museveni nota que sua popularidade está diminuindo. Mas muitos aqui dizem que as denúncias de suborno são uma campanha difamatória.

"Obviamente, a disputa é por posições, diante da expectativa de que Museveni não irá concorrer da próxima vez", disse Mahmood Mamdani, professor de antropologia da Universidade Columbia, em Nova York, e da Universidade Makerere, em Uganda.

O ex-líder rebelde se abespinha com as críticas, e se refere a si próprio na terceira pessoa. "Museveni nunca pode ter recebido dinheiro de ninguém", disse.

O que pode acontecer em Uganda já aconteceu em Angola, no Gabão e na Nigéria, países muito corruptos, onde o petróleo intensificou as disparidades sociais.

"A próxima geração de ugandenses pode crescer em um país muito diferente daquele dos seus pais e avós", disse a ONG Global Witness em um relatório. "Mas o risco de o fenômeno da maldição dos recursos tomar conta de Uganda não pode ser ignorado."

Uganda tem sido sacudida por manifestações contra a inflação, que chega a 30% ao ano. Os manifestantes se dizem inspirados pelas revoltas da Primavera Árabe.

Parlamentares já acusaram Museveni de vender petróleo e seus derivados a preços mais baixos para nações estrangeiras. Mas Museveni não se abala: "Nunca decepcionei Uganda", disse ele, resoluto.

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