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Arte em Nova York - Ensaio

Valorizando os oásis urbanos

MICHAEL KIMMELMAN

Em muitos dos bairros de Nova York de alta densidade, o chamado espaço público não passa de algum gesto simbólico feito por uma construtora em troca do direito de erguer um arranha-céu mais alto.

Quais são os elementos que tornam os bairros de alta densidade mais agradáveis para pedestres? Para começar, espaços públicos bem projetados.

Os melhores espaços públicos encorajam uma diversidade de experiências urbanas: participação em protestos, sonhar acordado, jogar handball, comer, ler, tomar banho de sol, cochilar.

É o caso do High Line, no West Side de Manhattan. O parque foi aberto dois anos atrás sem nenhum programa especial de atrações culturais ou outras para atrair as pessoas. A atração era, e ainda é, o próprio lugar. O sucesso dele mostra quanto pode ser realizado quando o governo municipal e interesses privados compartilham um interesse pelo domínio público.

Governors Island -uma base abandonada do Exército da qual a cidade se apropriou e à qual só é possível chegar por ferryboat- é outro experimento urbano esclarecido. O layout de espaços verdes, ciclovias, playgrounds e pavilhões evolui à medida que o público utiliza o lugar, em um processo que inverte a ordem em que a maioria dos espaços públicos é desenhada.

Mas, em uma cidade contenciosa onde não é possível plantar uma única árvore sem que alguém reclame para a prefeitura, querer que o público se responsabilize pelo design do espaço públicoé irrealista. Além disso, muitos espaços públicos, como o Zuccotti Park, são na realidade áreas de propriedade privada, e os proprietários encontram maneiras de restringir o acesso a elas.

No mês passado, arquitetos, planejadores e autoridades públicas de todo o país e do exterior tiveram um encontro na ocasião do 50º aniversário da histórica resolução de zoneamento de Nova York, de 1961. Essa resolução criou um programa para que construíssem espaços públicos em troca do direito de erguer edifícios maiores. Desde então, hectares dos espaços mais caros da cidade foram convertidos em praças e galerias. Mas espaço puro e simples, como observou a socióloga urbana Holly Whyte, não é o que as pessoas querem ou precisam. A questão é a qualidade, não a quantidade.

Alexander Garvin, arquiteto, urbanista e veterano de cinco administrações de Nova York, argumenta que a cidade deveria inverter sua abordagem, promovendo o zoneamento de bairros como Midtown, Lower Manhattan e Williamsburg, no Brooklyn, pensando primeiramente na forma do espaço público. O Rockefeller Center, a Times Square e Bryant Park estão entre os grandes espaços públicos do mundo e também são centros comerciais. O objetivo é aprender com o sucesso deles.

Os grandes projetos urbanos que estão sendo planejados em Nova York ainda tendem a ser produtos de negociações entre agências do governo ansiosas por melhoras econômicas e construtoras em busca de isenções das normas de zoneamento.

Enquanto isso, a demanda pública por parques, praças e mais ruas voltadas a pedestres só cresce. Cada shopping center novo aberto na cidade, como o que foi inaugurado recentemente na Gansevoort Street, se enche imediatamente, e os lojistas locais se beneficiam. Contrariando o que temiam alguns comerciantes, as vendas ao varejo aumentaram em Times Square depois de a Broadway ter sido fechada a carros, dois anos atrás, e convertida em área para pedestres.

A transformação da Times Square exigiu pensamento ousado por parte da administração do prefeito Michael Bloomberg. O mesmo nível de ousadia pode ajudar os bairros. Um redesenhar criativo (converter a rua 33 entre as Sétima e Oitava avenidas em via pedestre com teto de vidro, chegando até a estação) e um pouco de política intransigente (encontrar um outro espaço para o Madison Square Garden) ainda poderiam converter a agência dos correios de Farley num terminal Amtrak e levar um pouco de luz e ar para o que hoje é um núcleo de tráfego labiríntico.

O Rockefeller Center conquista elogios de Garvin. Sua passagem para pedestres, ladeada por lojas alegremente iluminadas, conduz a um rinque de patinação que emoldura a vista que se abre quando você chega. Sua rede de entradas de metrô, passarelas subterrâneas e espaços abertos, foi mapeada desde o início. Deixando de lado seus detalhes em estilo Art Deco, o que faz o Rockefeller Center ser tão especial é o modo como foi concebido em torno do espaço público. "Melhor do que isto, impossível", disse.

Em Bryant Park, Garvin exaltou o plano pelo qual empresas locais se uniram nos anos 1980 e lojas ajudaram a pagar por uma das transformações urbanas mais incríveis na história de Nova York. Antigamente símbolo da decadência urbana, criminalidade e falência do espaço público, num dia recente o parque estava lotado de pessoas atraídas pela feira de Natal, as barracas de comida e os cafés.

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