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O futuro da computação

O que acontece depois? Se tivéssemos um supercomputador que prevesse o futuro, poderíamos lhe dizer. Mas se o passado serve de guia, as previsões certamente estariam erradas. Aqui estão tecnologias que estão mudando o mundo.

COMPUTAÇÃO

China quer ser nº1 em tecnologia

Por DAVID BARBOZA e JOHN MARKOFF
Pequim

O futuro da internet já está na China, que tem quase duas vezes mais internautas que os EUA. Será que o mesmo se aplica ao futuro da computação?

Muitos especialistas dizem que é muito possível que sim. Graças à disponibilidade de mão-de-obra de baixo custo, a China já é a maior fabricante mundial de computadores e eletrônicos para consumidores.

Agora sua economia em expansão e infraestrutura tecnológica crescente podem empurrá-la para a linha de frente da próxima geração da computação.

A busca da China não é uma simples questão de orgulho nacional. É uma tentativa de criar as bases para empresas chinesas inovadoras e de reformular a paisagem tecnológica, fazendo algo mais que apenas montar PCs.

"Em 1978, eu vi funcionários costurando memórias de computador com agulhas de costura", contou Patrick J. McGovern, fundador da International Data Group, uma das primeiras investidoras na Tencent Holdings, bem-sucedida empresa chinesa de internet. "Agora a inovação está acelerada. No futuro, patentes de smartphones e tablets serão originadas por chineses."

Os EUA determinaram o rumo e o ritmo da computação e das comunicações modernas.

Nos anos 1980, o Japão parecia estar prestes a assumir o comando das indústrias de semicondutores e computadores. Mas então sua economia estagnou.

A economia japonesa é movida por exportações. Já a China em pouco tempo terá o maior mercado interno do mundo de computação e comércio na internet.

No final de 2010, um supercomputador chinês, o Tianhe-1A, tornou-se por pouco tempo o mais veloz do mundo. Embora fosse feito com processadores americanos e tenha sido superado em pouco tempo por uma máquina japonesa, o fato foi uma prova indiscutível de que chineses já fazem projetos de computação de primeiro nível.

Então, em outubro deste ano, outro supercomputador chinês rompeu a barreira do petaflop -um quatrilhão de cálculos por segundo-, colocando-se entre os 20 mais velozes do mundo.

Não apenas o aparelho foi baseado num microprocessador de produção chinesa, como conquistou um avanço importante na operação com baixo consumo de energia. O fato pode indicar que os chineses já têm uma dianteira importante em "performance per watt" -uma medida de computação com baixo consumo energético que é crucial para chegar à próxima geração de chamados supercomputadores exascale, que serão mil vezes mais velozes que os mais velozes existentes no mundo hoje.

Mas a China está muito atrasada em relação ao compromisso que assumiu há uma década de construir a maior indústria mundial de semicondutores; ela ainda importa a grande maioria dos microchips que usa. Suas melhores fábricas de chips estão duas a três gerações atrás da Intel e da T.S.M.C., de Taiwan.

É possível que sua maior fraqueza mostre ser o excesso de controle pelo governo. A inovação também pode ser limitada na China pela relativa ausência de proteção à propriedade intelectual, algo que desencoraja os empreendedores.

John Seeley, que dirigiu o Centro Palo Alto de Pesquisas da Xerox na década de 1980, quando foi inventado o conceito da computação presente em toda parte, não se impressiona com os esforços da China no campo, que envolve a ideia de que a potência de computação transforma os aparelhos usados no cotidiano.

Seeley disse que observou inovação real em empresas como a Foxconn, a empresa manufatureira de Taiwan que tem feito boa parte do trabalho de montagem da Apple. "Um lugar como a Foxconn se deve ao fato de a cultura da pesquisa e do design estar entranhada", disse ele.

O que assusta os concorrentes é que a China começou a produzir levas de engenheiros de hardware e programadores de software que estão vencendo concursos internacionais. A Universidade da Califórnia em Berkeley pretende criar um campus de engenharia em Xangai, suscitando receios sobre a transferência de tecnologia de uma das melhores escolas de engenharia dos Estados Unidos.

E a indústria chinesa está ficando mais inovadora. No verão deste ano, Dieter Ernst, membro sênior do Centro Oriente-Ocidente, disse que os chineses já superaram a Coreia do Sul e a Europa no número total de patentes e estão alcançando os EUA e o Japão. Ademais, a China hoje é o segundo maior mercado mundial de capital de investimentos, passando de US$ 2,2 bilhões em 2005 para US$ 7,6 bilhões.

Recentemente, pesquisadores da Universidade Stanford, na Califórnia, mapearam as atividades de investimento de 769 firmas que investem em 2.203 companhias chinesas. Marguerite Gong Hancock, que dirigiu o estudo, disse que são "as mesmas firmas que foram bem-sucedidas no Vale do Silício que transplantaram seus conhecimentos especializados na China".

As semelhanças com o Vale do Silício podem ser assustadoras. "Todos os sintomas de uma bolha estão presentes", disse Anne Stevenson-Yang, co-diretora da J Capital Research, uma companhia de pesquisas em investimentos em tecnologia. "É uma instabilidade inquietante."

Ao mesmo tempo, os empreendedores chineses tem uma cultura workaholic sem igual. "Em Pequim, se você quiser falar com um presidente às 19h30 de uma sexta-feira, é garantido que o encontrará no escritório", comentou Tom Melcher, empreendedor americano em Pequim.

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