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Dinheiro & Negócios

Promessa americana de ascensão migra para a Europa

POR JASON DEPARLE

Só 8% dos americanos pobres viram os 20% ricos

WASHINGTON - A vida americana se constrói com base na fé de que as pessoas de origem humilde podem ascender aos píncaros econômicos. Mas muitos pesquisadores têm concluído que os americanos gozam de menos mobilidade econômica do que seus pares no Canadá e em grande parte da Europa Ocidental.

As explicações para isso incluem a profundidade da pobreza americana, e o ágio excepcionalmente elevado que os patrões americanos pagam por trabalhadores com formação universitária, o que dificulta o avanço de empregados sem diploma. As crianças americanas têm maior propensão a seguirem o exemplo educacional dos seus pais.

Pelo menos cinco grandes estudos recentes concluíram que os EUA têm menos mobilidade do que países comparáveis.

Um projeto comandado por Markus Jantti, economista de uma universidade sueca, mostrou que 42% dos americanos criados entre o quinto populacional com menor renda permanecem nessa faixa quando adultos. Isso é muito mais do que na Dinamarca (25%) e na Grã-Bretanha (30%).

Por outro lado, só 8% desses americanos ascendem aos 20% da população que recebem a melhor remuneração. No Reino Unido, 12% conseguem essa trajetória; na Dinamarca, são 14%.

Apesar de tudo o que se fala sobre os EUA como uma sociedade sem classes, 62% dos americanos nascidos entre os 20% mais ricos continuam pelo menos entre os dois quintos mais ricos, e 65% dos nascidos entre os 20% mais pobres não ascendem além dos 40% mais pobres, segundo o Projeto Mobilidade Econômica, da entidade Pew Charitable Trusts.

A comparação mais reveladora talvez seja com o Canadá. O economista Miles Corak, de Ottawa, constatou que apenas 16% dos homens canadenses criados entre os 10% com menor renda permanecem nessa faixa, contra 22% dos americanos.

Céticos alertam que os estudos medem a mobilidade "relativa" - a probabilidade que uma criança tem de ocupar um lugar diferente dos seus pais na escala de distribuição de renda. Isso é diferente de ter mais dinheiro. A maioria dos americanos tem renda superior à dos seus pais porque o país enriqueceu.

A baixa disparidade de renda em países rivais também pode passar a impressão de maior mobilidade. Reihan Salam, articulista do National Review Online, calculou que uma família dinamarquesa pode passar dos 10% mais pobres para os 10% mais ricos com uma renda adicional anual de US$ 45 mil, ao passo que uma família americana precisaria de US$ 93 mil adicionais.

Mesmo levando em conta a mobilidade relativa, a classe média dos EUA permanece fluida.

Cerca de 36% dos americanos criados entre os 20% intermediários em termos de renda ascendem quando adultos, enquanto 23% permanecem no mesmo patamar, e 41% declinam, segundo a pesquisa do Pew. A imobilidade é maior nas pontas: famílias ricas transmitem suas vantagens, e os pobres continuam presos à sua situação.

Em 2006, Corak analisou mais de 50 estudos em nove países. Ele classificou Canadá, Noruega, Finlândia e Dinamarca como sendo os de maior mobilidade, enquanto EUA e Reino Unido ficaram praticamente empatados no outro extremo. Suécia, Alemanha e França estavam espalhadas pelo meio da tabela.

Embora a maioria dos acadêmicos concorde que há pouca mobilidade nos EUA, as causas disso são controversas. Os EUA mantêm uma rede de segurança social bem mais frágil que em outros países ricos, deixando mais crianças vulneráveis a dificuldades debilitantes.

Os americanos pobres também têm maior propensão do que seus pares em outros países a crescerem com mães solteiras, o que os coloca em risco elevado de pobreza, maior repetência escolar e criminalidade.

E os elevados índices carcerários dos EUA deixam milhões de homens estigmatizados no mercado de trabalho por causa de seu prontuário penal.

Outro traço distintivo é a importância da educação: nos EUA, a remuneração está fortemente distorcida em favor dos que a possuem por mais anos.

E os filhos de pessoas educadas e ricas frequentemente têm acesso a escolas melhores e estão mais preparadas para aprender.

Outras forças podem influenciar nessa tendência. Os EUA têm menor taxa de sindicalização do que seus pares, o que pode levar a salários menores entre os trabalhadores menos qualificados.

Além disso, o país tem problemas de saúde pública, como obesidade e diabetes, que podem limitar a educação e o emprego.

E há a própria magnitude da disparidade entre os ricos e os demais. Países menos desiguais geralmente têm mais mobilidade.

Salam acha a estagnação no piso alarmante, e alerta que ela só irá piorar. A maioria dos estudos termina com pessoas nascidas antes de 1970, e, até que estejam disponíveis dados mais recentes, afirmou com ressalvas, "não sabemos da missa a metade".

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