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Herdeiros inovam em busca de lucros

Por PATRICK HEALY

George e Ira Gershwin jamais teriam colocado seus nomes no título de sua obra mais famosa, a ópera "Porgy and Bess", de 1935.

Mas seus herdeiros têm um enorme poder, e na década de 1990 eles a reintitularam "The Gershwins' Porgy and Bess", enquanto procuravam sócios para adaptar a ópera em uma perene fábrica de dinheiro. Em 12 de janeiro, "The Gershwins' Porgy and Bess" estreou na Broadway, atualizada e enxuta, como parte de uma série de empreendimentos incomumente agressivos de espólios do teatro musical.

Outro exemplo atual é a reformulação na Broadway pela produtora Liza Lerner de um musical de seu pai, Alan Jay Lerner, "On a Clear Day You Can See Forever". A Organização Rodgers and Hammerstein, que se tornou parte de um conglomerado holandês em 2009, autorizou uma versão para o palco do musical para TV "Cinderella", desses compositores. O grupo também administra "Oklahoma!", da dupla.

E o espólio dos Gershwin tem outro musical chegando à Broadway, "Nice Work if You Can Get It"- remontagem de um musical dos autores, "Oh, Kay!", de 1920.

O libreto recém-adaptado para a Broadway de "Porgy and Bess" provavelmente ganhará um novo direito autoral que poderá ser licenciado. Os fiduciários dos espólios dizem que o potencial de ganhar dinheiro com o novo direito autoral depende de o musical fazer sucesso e os produtores desejarem licenciá-lo no futuro.

Como "Nice Work" é um show novo, os herdeiros dos Gershwin terão um longo novo direito autoral para desfrutar, enquanto os de "Oh, Kay!" expiram em 2021. (Hoje os espólios recebem alguns milhões de dólares por ano, segundo um dos fiduciários.)

A decisão do espólio foi polêmica no caso de "Porgy and Bess". Os herdeiros dos Gershwin desejavam uma peça adequada à Broadway para licenciar a produtores musicais de todo o mundo, na esperança de ganhar milhões de dólares antes que os direitos das famosas canções expirem em 2030. Tendo isso em mente, eles incentivaram a redução da ópera de quatro horas quase pela metade e aprovaram uma atualização.

"Nossas responsabilidades são não deixar a obra trancada em um porão, abrir a propriedade para as gerações mais jovens e ganhar dinheiro para as famílias", disse Jonathan Keidan, 38, cuja avó foi irmã de George e Ira e que é um fiduciário do espólio de George.

Alguns artistas teatrais dizem que a administração do espólio é uma grande preocupação porque os legados artísticos estão em jogo. "Como compositores e escritores, deveríamos deixar instruções específicas para nossos herdeiros sobre como queremos que nossa obra seja protegida", disse John Kander, 84, que escreveu partituras de sucesso como as de "Cabaret" e as de "Chicago".

Vários fiduciários dos Gershwin -assim como os de Lerner e de Burton Lane, compositor de "Clear Day"- disseram que o dinheiro foi um fator, mas não o principal. "Temos impulsos semelhantes aos produtores no sentido de que quero montar esses shows e sou movido a tentar ganhar dinheiro", disse Michael Strunsky, fiduciário do espólio de Ira Gershwin. (Seu pai era irmão da mulher de Ira.)

Os executores raramente podem fechar uma remontagem, mas podem negar qualquer extensão dos direitos, limitando a temporada de um musical.

A Organização Rodgers and Hammerstein se recusou a prorrogar uma produção de "South Pacific" na Universidade de Nova York em 1984, que era ambientada em um pavilhão de reabilitação para veteranos de guerra com problemas psicológicos, "com Nellie Forbush em uma camisa de força repetindo 'Estou apaixonada' durante praticamente meia hora", disse o presidente da organização, Theodore S. Chapin.

Chapin autorizou uma atualização do livro "Cinderella". "Um velho show pode desinteressar as plateias", disse. "Mas você não pode ir tão longe a ponto de minar o espírito e a alma do original."

Marc G. Gershwin, filho de Arthur, irmão de George e Ira, e os outros herdeiros trabalharam durante anos para criar uma versão musical de "Porgy and Bess", com a produção do diretor Trevor Nunn em Londres em 2006 chegando perto do sucesso. A nova versão inclui diálogos de Suzan-Lori Parks, ganhadora do prêmio Pulitzer, e é estrelada pela atriz Audra McDonald, quatro vezes vencedora do Tony.

O original sempre continuará disponível para companhias de ópera, comentou Marc Gershwin, "mas isso não quer dizer que deva ser uma peça de museu".

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