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Empresários mexicanos investem na paz

Por ELISABETH MALKIN

MONTERREY, México - Os capitães da indústria desta próspera cidade viram-na se transformar nos últimos dois anos em um campo de batalha na guerra ao narcotráfico do país. Em agosto, membros do cartel Zetas incendiaram um cassino que não lhes pagou suborno, matando 52 pessoas.

"Eu confesso e faço 'mea culpa' de que acordamos tarde", disse José Antonio Fernández Carbajal, presidente da Femsa, uma das maiores engarrafadoras de Coca-Cola do mundo e um grande varejista mexicano.

Fernández e outros empresários hoje estão empenhados em recuperar a paz da cidade. Suas empresas ajudaram a criar uma campanha de recrutamento para uma nova força policial estatal e estão montando um centro de atendimento telefônico. Elas também custeiam os planos de reurbanização do governo.

Esse surto de generosidade é relativamente novo no México, onde até recentemente a filantropia corporativa quase não passava da distribuição de brinquedos para órfãos no Natal. "Nos últimos cinco ou dez anos houve progresso em termos de quantidade de dinheiro e de qualidade", disse Michael Layton, diretor do Projeto Filantropia e Sociedade Civil do Instituto Tecnológico Autônomo do México. "Mas não acho que o México se equiparou ao Brasil e outros países onde o setor empresarial assumiu a filantropia com vontade."

Mas Javier García Justicia, um professor de sociologia da Universidade de Monterrey, diz que a maioria das empresas poderia dar muito mais. "Algumas empresas realmente embarcaram", ele disse. "Outras veem isso como uma espécie de publicidade."

Uma nova aliança de empresas de Monterrey, a Red Sumarse, pretende reforçar as ONGs que trabalham em desenvolvimento comunitário. A empresa telefônica Axtel e a fabricante de tortilhas Gruma lideram cerca de 20 empresas que estão se adaptando a um programa americano, Gear Up, para investir em educação e incentivar as crianças a não abandonar os estudos.

Enquanto o caos crescia na cidade, Lorenzo Zambrano, presidente da Cemex, a maior fornecedora de material de construção do mundo, publicou uma mensagem furiosa no Twitter: "Quem deixar Monterrey é um covarde", ele escreveu em um comentário que ainda repercute quase 18 meses depois. "Precisamos reconquistar nossa grande cidade."

O turbilhão na cidade é um sinal da realidade mexicana que os líderes empresariais hoje admitem que foi ignorada por muito tempo. "A violência é uma expressão da desigualdade social", disse Zambrano.

Fernández pode indicar um momento divisor de águas pessoal: o dia em que dois seguranças da Femsa foram mortos em um tiroteio diante da escola americana em agosto de 2010.

A subsidiária de varejo da empresa, Oxxo, começou um projeto no bairro pobre atrás de sua sede. A Oxxo pretende construir parques, criar oportunidades de emprego e trabalhar para manter os adolescentes fora das gangues.

Bem no meio do violento bairro Independencia há um centro comunitário inaugurado alguns meses atrás. Mulheres saltam em uma aula de aeróbica na academia. Acordes de violão podem ser ouvidos da sala de música.

O centro é criação de Javier Treviño, um ex-executivo da Cemex que hoje é membro do governo estadual de Nuevo León. Seguindo o exemplo de Medellín, na Colômbia, cujas autoridades colocaram bibliotecas em alguns bairros mais violentos, Treviño escolheu Independencia como projeto-piloto. É o primeiro de 70 bairros em toda Monterrey e suas cidades satélites muito pobres que serão reurbanizados.

Autoridades estaduais e locais, enquanto isso, estão demitindo dois terços de todos os policiais de Nuevo León e substituindo-os pela nova força civil. A Cemex e outras empresas de Monterrey também incentivaram que os cidadãos cobrem as autoridades. Os moradores podem mandar mensagens, publicar comentários no Twitter ou telefonar.

Os críticos advertem que o trabalho está incompleto. Tatiana Clouthier, que lidera um grupo de observadores em Monterrey, disse: "As empresas querem se concentrar em segurança, educação, cuidados com as vítimas, mas não querem atacar a corrupção, que é a raiz dos problemas".

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