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Contra a crise, comércio 24h na Itália

Por ELISABETTA POVOLEDO

ROMA - Os primeiros dias de 2012 anunciaram uma sutil revolução na Itália: a desregulamentação dos horários de funcionamento de estabelecimentos comerciais como lojas, bares e restaurantes.

Introduzido em dezembro como parte do pacote anticrise do primeiro-ministro Mario Monti, conhecido como "Salvem a Itália", a medida permite que os lojistas definam seus próprios horários e reduz as normas que antes regulamentavam os empresários.

Embora muitos consumidores tenham aplaudido, entusiasmados com a perspectiva de fazer compras à noite, associações de pequenas empresas denunciaram as regras, dizendo que são "uma sentença de morte" para lojas familiares que atravessam dificuldades em uma recessão.

"As pessoas não compram em um momento de recessão. Se o seu poder de compra está limitado, isso não vai mudar se uma loja ficar aberta até mais tarde", disse Valter Giammaria, presidente do capítulo de Roma da Confesercenti, uma organização de pequenas e médias empresas. Sua entidade está considerando fechar as lojas em protesto, ele disse.

Giammaria disse que os pequenos comerciantes da Itália já estão sofrendo e que somente em Roma 10 mil pequenas lojas fecharam nos últimos três anos, deixando cerca de 35 mil pessoas sem trabalho. "O governo precisa repensar tudo isso. De outro modo só vai ajudar as grandes redes de lojas", ele disse. "Estamos do lado dos pequenos comerciantes."

Ele quer dizer pessoas como Angelo Salis, que opera um pequeno bar no centro de Roma com seus filhos adultos e teme ter de trabalhar mais horas -e aos domingos - para se manter competitivo. "Tudo bem se você possui uma grande empresa, mas quando está tudo em família, simplesmente não sei", disse Salis.

O novo governo de Monti designou diversas maneiras de incentivar o crescimento da economia italiana, que esteve praticamente estagnada na última década. Estas incluem abrir ocupações fechadas como operadores de táxis e farmacêuticos e medidas para promover a concorrência.

Governadores de várias regiões italianas, que tradicionalmente supervisionam as leis que regulamentam alguns aspectos do comércio, queixam-se de que a lei está invadindo seu território e prometem combater as modificações na Justiça. "O consumismo não é a resposta certa para a crise", disse Enrico Rossi, governador da região da Toscana, à agência de notícias Ansa. "Isto é um insulto à nossa identidade cultural, nossas tradições e nossa história."

Alguns economistas que estudam o setor varejista reconhecem que manter as lojas abertas por mais tempo provavelmente não vai aumentar os gastos, sobretudo em um momento em que os italianos estão pagando impostos mais altos e comprando menos.

Não existe uma legislação europeia que regulamente o comércio e os horários de funcionamento podem variar muito entre países e entre cidades do mesmo país. Segundo o instituto de pesquisa RegioData, em Viena, a Alemanha e a Áustria estão entre os países mais regulamentados, enquanto os padrões são mais flexíveis na França, Espanha e Reino Unido.

Alguns comerciantes são céticos sobre se as novas regulamentações vão fazer muita diferença. "Roma não é Nova York", disse Marina Moltedo, que trabalha na Edo City, uma loja de roupas em Roma. "Os italianos não têm a mentalidade de fazer compras fora de hora."

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