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Jeta Xharra

Uma kosovar decidida a desvendar a verdade

Por MATTHEW BRUNWASSER

PRISTINA, Kosovo - Aos 22 anos, ela ajudava equipes de televisão da BBC em Kosovo e arredores, durante os bombardeios de 1999 da Otan sobre a Sérvia.

Hoje, aos 33, Jeta Xharra mantém o aguerrido jornalismo de interesse público que ela diz ter aprendido com gente como Jeremy Paxman, apresentador do popular programa de televisão britânico "Newsnight".

Em 1999, expor malfeitos parecia um ideal comum à ampla maioria dos albaneses do Kosovo, unidos que estavam na luta contra o regime autoritário da Sérvia de Slobodan Milosevic.

Agora, Xharra acha que há pouca proteção ao jornalismo no seu país, onde se misturam a corrupção, a criminalidade e a fragilidade das instituições. Em 2009, ela recebeu ameaças de morte, mas nenhum promotor quis assumir o caso, segundo Xharra, porque eles também temiam represálias. Só em agosto passado promotores europeus apresentaram denúncia criminal pelas ameaças.

O caso ilustra o enorme desafio de tentar estabelecer a igualdade perante a lei em Kosovo. Enquanto funcionários internacionais afirmam estar empenhados ao máximo em levar um bom governo a Kosovo, ela garante que "os internacionais" não ligam para o que o governo kosovar faz, desde que ele não atrapalhe uma aparência de estabilidade.

"A mensagem é: o governo pode fazer o que bem quiser com a população local, inclusive roubar verbas públicas e intimidar os críticos na mídia e os adversários políticos", disse ela.

Xharra não tem medo do conflito. "Aprendi desde cedo que, se forem acontecer massacres, precisamos ter certeza de que as câmeras estarão lá para haver alguma reação da diplomacia internacional."

Depois da guerra, ela passou três meses noticiando a violenta retaliação dos libertadores albaneses-kosovares contra os sérvios e os ciganos. Enquanto isso, a coesão dos kosovares no tempo da guerra logo se esfacelou também.

Ela deixou Kosovo em 2000. Foi para Londres, especializou-se em estudos de guerra no King's College e passou três anos trabalhando no Serviço Mundial da BBC. Concluiu que Kosovo precisava de alguém como Paxman, com um estilo agressivo de entrevistar e de fazer reportagem.

Em 2004, Xharra começou a planejar o seu próprio programa, para investigar a corrupção e a criminalidade, mas também para encarar tabus kosovares: a violência contra as mulheres, a homossexualidade, ou como fazer os políticos cumprirem suas promessas depois de eleitos.

"As pessoas me dizem que eu cheguei até aqui porque ninguém me levou a sério", disse ela. "Se eu fosse um homem, eu teria sido fisicamente agredida. Existe essa mentalidade geral de que uma mulher não pode ser uma ameaça, e uso isso a meu favor."

Seu programa semanal de atualidades, "Jeta ne Kosove" ("a vida em Kosovo", um trocadilho com o nome dela), está no ar desde 2005. Muitos kosovares acham arrogante o estilo agressivo dela. Mas, depois do primeiro ano, disse Xharra, o programa já tinha a segunda maior audiência da TV albanesa, embora vá ao ar às 23h15.

"De repente estava essa mulher na TV, espremendo os políticos, os durões", afirmou Kastriot Jahaj, apresentador de um programa irmão, o "Justiça em Kosovo".

"Ela criou um novo tipo de jornalismo aqui", acrescentou Jahaj. "Ela representou pela primeira vez a voz da cidadania no jornalismo. Foi uma voz irritada, que o povo daqui nunca antes tinha escutado na televisão."

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