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Kumi Naidoo

Um líder do Greenpeace com acesso às empresas

Por JOHN M. BRODER

DURBAN, África do Sul - O barbudo sul-africano de bata vermelha se sentou na primeira fila, em meio a um mar de executivos de terno preto, numa reunião paralela à conferência climática da ONU, aqui em dezembro.

"Kumi, é bom ver você por aqui", disse Bjorn Stigson, presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, saudando Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional. "Prefiro muito mais que você esteja aqui dentro da sala a que lá fora protestando."

Naquele momento, ativistas do Greenpeace sob o comando de Naidoo estavam em frente ao hotel, gritando contra os empresários reunidos. Sete ambientalistas foram presos e acusados de invasão de propriedade; três foram multados e deportados.

Nos dois anos desde que foi nomeado para chefiar o Greenpeace, Naidoo -que na adolescência participou do movimento antiapartheid- tenta pelo charme conseguir acesso aos conselhos e diretorias das empresas, paraobter o apoio a uma ampla pauta de ativismo ambientalista, ainda que seu grupo preserve seu status radical e inconformista.

Naidoo, 46, não tem aversão à publicidade, e fez questão, por exemplo, de que sua tentativa de subir numa plataforma petrolífera na costa da Groenlândia, em junho passado, recebesse uma ampla cobertura midiática. A aventura lhe rendeu quatro dias de cadeia.

Em 2003, ele seguiu Bill Clinton até um banheiro durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), para conseguir um minuto a sós com o ex-presidente dos Estados Unidos.

Naidoo fugiu ainda jovem da África do Sul, após sofrer várias detenções e agressões por ações antigoverno. Ganhou uma bolsa Rhodes na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e se doutorou em sociologia política.

Sua abordagem para revitalizar o Greenpeace, uma entidade com 40 anos de vida, em crise de identidade, mas com quase 3 milhões de membros contribuintes e 2.400 empregados, lhe rendeu algumas críticas.

Ex-funcionários do Greenpeace dizem que Naidoo está traindo as raízes ambientais da organização para transformá-la em uma ONG social.

"Tudo tem a ver com uma extrema correção política", disse Paul Watson, fundador do Greenpeace, hoje comandando o grupo Pastor do Mar, que luta contra a caça às baleias.

"Se ele estivesse comandando a Anistia Internacional ou a Cruz Vermelha, eu estaria totalmente a favor dele. Mas quando ele faz declarações sobre proteger o planeta aliviando a pobreza mundial, isso não faz sentido. Não há recursos suficientes para tanto. O grupo deveria se concentrar em fazer aquilo para o que foi originalmente criado."

Naidoo acha que sua vocação vai bem além de salvar algumas baleias. Ele deseja ajudar na superação das antigas disparidades entre Norte e Sul, ricos e pobres, verdes e negros.

"O ambientalismo tradicional, de matriz ocidental, fracassou em fazer as conexões corretas entre justiça ambiental, social e econômica", disse.

"Vim para o movimento ambientalista porque os pobres estão pagando pelos primeiros e mais brutais impactos das mudanças climáticas."

Por muito tempo, argumenta ele, o movimento ambientalista foi um projeto das elites dos países ricos, mais importadas em salvar animais raros do que em ajudar pessoas ameaçadas pela pobreza e pelas mudanças climáticas no mundo todo.

"Veja, 1,6 bilhão de pessoas não têm acesso à energia, mas vivem em regiões abençoadas por abundante energia solar, eólica, das ondas e geotérmica", afirmou. "Se pudermos tratar desse problema, podemos aliviar a pobreza, criar empregos e avançar para um futuro de energia limpa."

Seus esforços para ampliar a missão e os métodos do Greenpeace atraem elogios do renomado ativista ambiental americano Bill McKibben.

"Ele é completamente notável, trazendo todas as habilidades dos movimentos por justiça social e antiapartheid para a arena ambiental, onde elas são extremamente necessárias", disse McKibben por e-mail.

"Acima de tudo, ele entende que a mobilização das massas é a nossa única esperança na luta climática", acrescentou.

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