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O cinema na veia do clã Barreto

Por LARRY ROHTER

Às vezes, eles se limitam a apenas produzir filmes, mas em muitas outras ocasiões eles já os escreveram, dirigiram ou filmaram. Por qualquer critério que se queira usar, porém, os Barreto -o casal Luiz Carlos e Lucy e seus filhos, Bruno, Fábio e Paula- são a "primeira-família" do cinema no Brasil.

Nos últimos 50 anos, os Barreto já ajudaram a fazer mais de 80 filmes. O mais recente, "Lula, o Filho do Brasil", foi lançado em 2010 no Brasil, mas estreou nos Estados Unidos apenas em janeiro.

Feitos em uma variedade de estilos e gêneros, que vão desde comédias românticas, como "Bossa Nova", até dramas políticos, como "Memórias do Cárcere", esses filme já foram premiados no Festival de Cannes, receberam indicações ao Oscar, lançaram carreiras de atores e diretores e foram recordes de bilheteria.

A atriz Sônia Braga ganhou destaque mundial nos anos 1970 em "Dona Flor e Seus Dois Maridos", dirigido por Bruno Barreto e produzido pelos pais dele. Para ela, na história do cinema brasileiro "existe o antes dos Barreto e o depois. Eles vivem, respiram e comem cinema. Construíram um legado duradouro."

Nascido no Nordeste brasileiro, o patriarca da família, Luiz Carlos Barreto, que está com 83 anos, foi criado em Fortaleza. Ele tem uma recordação de infância de ter visto Orson Welles filmando "Four Men on a Raft", filme que nunca chegou a ser lançado, numa praia da cidade e de ter ficado "fascinado com todos aqueles equipamentos". Mas, quando se mudou para o Rio de Janeiro, aos 17 anos, foi para jogar futebol e trabalhar como jornalista.

Um fato crucial foi que Barreto fez matérias sobre cinema e ficou conhecendo diretores como Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Cacá Diegues. Isso acabou levando a um convite para escrever o roteiro de "O Assalto ao Trem Pagador", sucesso comercial de 1962 e um dos primeiros filmes do intransigente e socialmente engajado cinema novo a conquistar atenção no exterior.

Ele foi chamado para fazer a fotografia de "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, e "Terra em Transe", de Glauber Rocha- ambos premiados em Cannes.

No entanto, Barreto constatou que preferia produzir a dirigir. Segundo ele, um diretor "cria uma deformidade na alma das pessoas. Você se torna o inventor de vidas, de situações."

Fiel ao lema do cinema novo de que para fazer um filme só é preciso "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", a maioria dos filmes de Barreto foi editada na pequena casa de hóspedes atrás da residência dos Barreto no Rio.

Quando o cinema novo chegou ao fim, apressado pela repressão política, algumas das figuras mais importantes do movimento tiveram dificuldade em se adaptar. Mas não foi o caso dos Barreto: nos anos 1970 e 1980 a produtora deles, a LCBarreto, criou sucessos internacionais como "Dona Flor" e "Bye Bye Brasil", este de Cacá Diegues. Na década de 1990, eles receberam indicações ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em duas ocasiões, por "O Quatrilho", de Fábio Barreto, e "O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto.

"Os dois rapazes são ótimos diretores e são uns amores para se trabalhar, mas são muito diferentes em suas abordagens", disse Sônia Braga. "Fábio é mais intuitivo e Bruno é mais cerebral em sua abordagem ao cinema."

Em dezembro de 2009, porém, Fábio Barreto sofreu um acidente de carro que o deixou em coma.

Lucy e Paula Barreto estão trabalhando em um filme sobre os 16 anos em que a poeta americana Elizabeth Bishop viveu no Brasil. A direção é de Bruno Barreto.

Glória Pires, que representou a mãe do presidente em "Lula", já assinou contrato para interpretar a paisagista Carlota de Macedo Soares, a namorada de Elizabeth Bishop. Será o quinto filme de Glória Pires com os Barreto.

"Eles falam francamente entre si, sem subterfúgios", disse a atriz. "Sempre há uma clareza que acho que acaba fazendo o filme ficar melhor."

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