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Zumbis invadem a mídia e a imaginação popular

Por WILLIAM GRIMES

Os tempos podem ser difíceis, mas, se você por acaso é um zumbi, o futuro parece promissor. Nunca antes os mortos-vivos pareceram estar tão vivos.

O apocalipse dos zumbis, uma fantasia de fim dos tempos em que os mortos caçam os vivos e consomem seus cérebros, contaminou a imaginação popular. Em seriados de TV, como "The Walking Dead" e videogames, como Zombie Panic, cadáveres devoram carne humana.

Escritores, como Max Brooks, preencheram os detalhes sombrios em "The Zombie Survival Guide" e poetas escreveram. Os trabalhos de mais de 50 poetas sobre zumbis foram reunidos na antologia "Aim for the Head".

Como material poético, os zumbis oferecem possibilidades singulares. "Aim for the Head" representa a primeira tentativa da poesia sobre zumbis, em formato impresso, que atrai séria atenção.

"É uma proposta intrigante", disse Sarah Juliet Lauro, coeditora do livro de ensaios "Better Off Dead: The Evolution of the Zombie as Post Human". "Se seu cérebro já morreu, mas você continua a andar por aí, qual seria a aparência disso, vista por dentro?"

Nada boa. Segundo trechos de "My Zombie Journal", de Matt Betts, na antologia "Vicious Verses and Reanimated Rhymes":

"Sei que eu tinha dois braços quando cheguei a esta cidade mas pareço ter deixado um deles em algum lugar."

Carne em decomposição, uma personalidade que se desintegra, uma ânsia insaciável por consumir cérebros -é essa a experiência dos zumbis, embora alguns poetas visualizem estados emocionais como a alienação e a dor da perda. Em "Rebirth Is Always Painful", Evan Peterson indaga:

"Pergunta antiga: quando os mortos caminham, eles conhecem poesia? Ou será que tudo não passa de fome, cérebros e carne?

Não se engane: um zumbi sente dor, sim. É a própria dor que não tem sentido."

Megan Thoma trata do tema em tom ainda mais mordaz. "Vamos brincar de sexo dos zumbis", ela escreve em "Sexy Zombie Haiku #2". "Você come. Eu gemo. Nenhum de nós sente nada."

Os pálidos e sedutores vampiros desfrutam seu prestígio literário há quase dois séculos, mas os zumbis sofrem de um problema de imagem negativa. Em "I Hate Zombies Like You Hate Me", Scott Woods escreve:

"Se formos francos, não amamos o zumbi.

Não achamos o zumbi bacana.

Não imaginamos um zumbi para amante, para conde ou para um sanduíche de Tom Cruise e Brad Pitt."

O zumbi pode não ser bacana, mas é persuasivo. E representa um material melhor. "Já escrevi poemas sobre vampiros, mas sempre achei os vampiros individualizados demais", pondera Victor Infante, editor do site de poesias radiuslit.org. "Um zumbi não tem personalidade; logo, você pode se concentrar na metáfora."

No filme "O Despertar dos Mortos" (1978), de George Romero, zumbis invadem um shopping center, numa paródia cruel do consumismo insensato. Poetas também já usaram o zumbi como metáfora do preconceito de classes, do racismo e do colonialismo.

E existe espaço até para o nicho da comédia stand-up. Em "Zombie Stand-Up", Shappy Seasholtz capta o desespero de um comediante fracassado: "Posso não ser o humorista zumbi mais engraçado que você veja na vida -mas sou morto-vivo!"

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