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Ciência e Tecnologia

O papel evolucionário de uma emoção

POR JAMES GORMAN

O nojo, uma emoção que já foi desprezada pela ciência, agora vive seu momento. Pesquisadores descobriram que o nojo protege os seres humanos de doenças e parasitas e afeta quase todos os aspectos das relações humanas.

Cientistas estão explorando a evolução do nojo e sua função em atitudes relativas a alimentos, sexo e outras pessoas.

Paul Rozin, um psicólogo e professor emérito na Universidade da Pensilvânia, começou a pesquisar o nojo com alguns colaboradores na década de 1980. "Sempre foi a outra emoção", disse. "Hoje é quente."

Falando em janeiro em uma conferência sobre nojo na Alemanha, Valerie Curtis, uma "nojóloga" da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, descreveu sua emoção favorita como "incrivelmente importante".

"Está em nossa vida cotidiana", disse. "Determina nossos hábitos de higiene. Determina a proximidade que temos das pessoas. Determina quem vamos beijar, com quem vamos copular, ao lado de quem vamos sentar. Determina as pessoas que rejeitamos."

Começa cedo, ela disse: "As crianças no playground acusam outras de ter piolhos. E funciona, e as pessoas sentem vergonha quando são alvo de nojo".

Alguns estudos sugerem que as pessoas politicamente conservadoras são mais inclinadas ao nojo que as liberais. E o que elas acham nojento muitas vezes também acham imoral.

O nojo é relativamente fácil de localizar no cérebro, onde frequenta a ínsula, a amígdala e outras regiões.

A pesquisa pode ter benefícios práticos, incluindo pistas para o distúrbio compulsivo obsessivo: lavar as mãos excessivamente, por exemplo, pode indicar que o nojo está fora de controle.

Alguns pesquisadores tentam inspirar mais nojo contra sujeira e germes para promover a lavagem das mãos e melhorar a saúde pública. A doutora Curtis está envolvida nessas iniciativas na África, na Índia e no Reino Unido. Um slogan que pareceu eficaz no Reino Unido para fazer as pessoas se lavarem antes de sair do banheiro foi: "Não traga o vaso junto com você".

Geralmente, aceita-se que o nojo evoluiu em parte para evitar que coloquemos coisas ruins na boca. A doutora Curtis e seus colegas acreditam que o nojo foi elaborado pela evolução cultural para incluir outras formas, uma delas baseada na rejeição às coisas que lembram a natureza animal do ser humano: sexo, morte, fezes e comida estragada sugerem animalidade.

Uma nova abordagem do nojo foi mostrada em uma edição especial em dezembro de "The Philosophical Transactions of the Royal Society", "Evitando doenças: dos animais à cultura", e em uma conferência realizada em janeiro em Bielefeld, Alemanha.

A doutora Curtis, que contribuiu para a edição, disse que as origens animais do nojo envolvem muitas formas de disseminação de doenças, como as moscas, por isso há diversos sinais de doenças e tipos de nojo.

"Nem tudo é oral", disse.

Pesquisadores reivindicam nove áreas diferentes de nojo entre os norte-americanos. Curtis propõe sete categorias. Joshua Tybur, da Universidade VU em Amsterdã, propôs três áreas de nojo, três programas psicológicos separados: para evitar doenças, escolha de parceiro sexual e julgamento moral.

"As pessoas que são sensíveis a um tipo de nojo não são necessariamente sensíveis a outro", disse. Sua pesquisa sugeriu que os conservadores sentem mais nojo de temas sexuais, mas são semelhantes aos liberais ao evitar doenças e fazer julgamentos morais.

Os pesquisadores também tentaram identificar detalhes sobre os mecanismos e o valor evolucionário do nojo. Daniel Fessler, um antropólogo na Universidade da Califórnia em Los Angeles, estudou mulheres grávidas e descobriu que, conforme aumentam os níveis de progesterona, também cresce a sensibilidade ao nojo.

Uma função importante da progesterona, disse o doutor Fessler, é que ela controla as inflamações que poderiam impedir a implantação do embrião na placenta.

Assim, ele e seus colegas raciocinam, enquanto o corpo reduz o nível de um tipo de proteção, aumenta outro tipo de defesa, o nojo.

A doutora Curtis e uma agência de publicidade da Índia criaram uma campanha baseada no nojo para incentivar a lavagem de mãos nas pequenas aldeias, o que poderá salvar a vida de muitas crianças que contraem diarreia e outras doenças.

Em um esquete, um homem que faz doces usando lama e minhocas sai correndo porque tem diarreia. Ele nunca lava as mãos e, de modo geral, é nojento.

Estudar o nojo, diz a doutora Curtis, faz você perceber como é importante falar sobre as coisas que nos enojam, porque muitas vezes elas representam perigos à saúde pública. E a prova número 1 é o excremento e os riscos associados a ele.

"O que é pior? Falar sobre isso ou deixar crianças morrerem?", perguntou.

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