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Sequestros apoiam luta do Taleban

Militantes levantam milhões com resgates

Por DECLAN WALSH

LAHORE, Paquistão - Uma onda de sequestros de figuras destacadas vem provendo o Taleban paquistanês e seus aliados com novos recursos, dotando insurgentes de milhões de dólares, ameaçando programas internacionais de assistência e mobilizando uma rede sofisticada de quadrilhas jihadistas e criminosas, cuja área de atuação se estende por todo o país.

Industriais ricos, acadêmicos, funcionários humanitários ocidentais e parentes de oficiais militares vêm sendo alvos de uma onda de sequestros que nos últimos três anos chegou a todas as principais cidades do país, dizem autoridades do Paquistão.

Para muitos reféns, a experiência implica uma viagem penosa para o coração do Waziristão, o temível reduto do Taleban, ao lado da fronteira com o Afeganistão, que é o alvo principal de uma campanha de bombardeios lançados por aviões não tripulados da CIA.

Um jovem empresário punjabi, que em 2011 passou seis meses no Waziristão como refém do Taleban, descreveu um episódio assustador marcado por celas sujas, deslocamentos clandestinos, espancamentos brutais e negociações estressantes com sua família distante e desesperada.

Os sequestros são praticados há séculos em partes do Paquistão. O que mudou é o grau de envolvimento do Taleban.

De acordo com cifras do Ministério do Interior, houve 474 sequestros com pedidos de resgate, em 2010, e 467, no ano passado.

Um funcionário sênior de segurança do Paquistão confirmou que um trabalhador humanitário alemão de 70 anos e seu colega italiano de 24 que desapareceram da cidade de Multan em 20 de janeiro estão em poder de militantes na região norte do Waziristão.

Outros reféns em poder de militantes incluem Shahbaz Taseer, filho do ex-governador do Punjab Salmaan Taseer, que morreu assassinado; dois turistas suíços; o genro de um general quatro estrelas na reserva, e Warren Weinstein, americano de 70 anos feito refém pela Al Qaeda.

O Taleban paquistanês diz que os sequestros rendem valores significativos em dinheiro, a possibilidade de libertar combatentes aprisionados e constituem uma afirmação política contra os esforços dos EUA para expulsar a Al Qaeda do cinturão tribal. "Estamos alvejando estrangeiros como reação à exigência do governo de expulsarmos os mujahedines estrangeiros", disse o vice-líder do Taleban paquistanês, Wali ur-Rehman.

As ordens são dadas por comandantes militares paquistaneses e estrangeiros no Waziristão, mas os reféns são sequestrados em suas casas, seus veículos ou seus locais de trabalho por um misto de criminosos contratados e membros do "Taleban punjabi".

Os resgates pedidos normalmente ficam entre US$ 500 mil e US$ 2,2 milhões, mas o preço final pago frequentemente é um décimo do valor inicialmente exigido. Os sequestradores podem passar meses vigiando seus alvos antes de entrar em ação, utilizam injeções de sedativos para dominar suas vítimas e fazem exigências por vídeo, via Skype.

As vítimas tendem a ser pessoas ricas e, em muitos casos, vindas de minorias sectárias vulneráveis, como hindus, xiitas e muçulmanos ahmadiyyas.

"Disseram-me sem rodeios que fui sequestrado por ser ahmadiyya", disse o jovem empresário punjabi mantido refém no Waziristão no ano passado.

O empresário passou um mês trancado num porão e então foi levado de carro para Miram Shah, no Waziristão.

Ali ele passaria cinco meses preso em uma casa, vigiado por cerca de 20 combatentes.

Com o passar do tempo, os guardas o deixaram caminhar pelo complexo. Ele começou a conversar com alguns de seus captores e a ajudar outros na cozinha.

Antes de gravar um vídeo com o refém, seus captores o espancaram com uma mangueira. Mas, depois da gravação, dois dos militantes mandaram comprar analgésicos para ele.

À noite, eles assistiam a vídeos de soldados paquistaneses sendo executados ou trechos de filmes de Hollywood: muçulmanos matando cruzados cristãos em "Cruzada", de Ridley Scott, ou Sylvester Stallone combatendo soldados soviéticos no Afeganistão em "Rambo 3".

O jovem empresário foi libertado no ano passado quando sua família enviou ao Taleban um pagamento em dinheiro. Logo antes de sua partida do complexo em Miram Shah, alguns combatentes se despediram dele.

Explicaram que era verão, portanto era chegada a hora de atravessar a pé as montanhas íngremes e voltar ao Afeganistão para uma nova temporada de batalha contra as forças americanas e da Otan.

Waqar Gilani contribiu de Lahore, Ismail Khan de Peshawar e Ihsanullah Tipu Mehsud do Waziristão, no Paquistão

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