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Diário de Cidade Nezahualcóyotl

Para alguns mexicanos, o lixo é um tesouro a ser defendido

Por ELISABETH MALKIN

CIDADE NEZAHUALCÓYOTL, México - Pablo Téllez Falcón há anos reina soberano em um dos maiores lixões do mundo, na periferia da Cidade do México. Ele diz que nasceu no lixo, e nele pretende morrer.

Semanas atrás, porém, a prefeitura fechou o gigantesco aterro sanitário de Bordo Poniente, lacrando o portão e levando os resíduos para lixões novos e distantes. As autoridades também apresentaram estratégias para reciclar, queimar e compostar praticamente todo o lixo hoje gerado na cidade.

Mas essa forma tipicamente europeia de tratar o lixo contrasta fortemente com as necessidades dos 1.500 "pepenadores" (catadores) cuja sobrevivência depende do material que chega diariamente ao Bordo Poniente.

"O lixo nunca vai acabar", disse Téllez, 74. "Fizemos grandes avanços e agora os outros estão vindo para levar o negócio que criamos."

Em várias ocasiões no último ano, os pepenadores bloquearam a entrada de gigantescas carretas de lixo no aterro, como protesto contra a desativação. Em resposta, quando o prefeito da capital, Marcelo Ebrard, apareceu aqui em 19 de dezembro para fechar o aterro de 395 hectares e anunciar um projeto de usina elétrica alimentada pelo gás metano do lixão, ele precisou prometer também que a área onde os pepenadores separam o lixo não será desativada.

Agora o material levado ao Bordo Poniente será recolocado em caminhões e encaminhado aos novos aterros depois que os pepenadores acabarem de coletar o que puderem vender.

Apenas um décimo do lixo que eles vasculham pode ser separado para a reciclagem. E, por todo esse esforço, cada pepenador ganha de US$ 39 a US$ 62 por semana.

O sociólogo Héctor Castillo Berthier, da Universidade Nacional Autônoma do México, estima que 250 mil pessoas dependam do lixo na Cidade do México, incluindo garis, varredores, pepenadores, comerciantes de sucata e suas famílias.

Especialistas dizem que transportar o lixo é caro, e que os novos aterros vão se encher com relativa rapidez.

Gabriel Quadri de la Torre, um ex-funcionário ambiental federal que agora concorre à Presidência, diz que, com uma gestão adequada, a prefeitura poderia usar o aterro de Bordo Poniente por mais muitos anos.

Mas as autoridades municipais dizem estar controlando o problema do lixo da Cidade do México.

Fernando Aboitiz, secretário municipal de Obras e Serviços, disse que nos últimos 14 meses a cidade reduziu de 11.400 para cerca de 3.600 toneladas a quantidade diária de lixo que precisa ir para os novos aterros.

Quadri, porém, contesta as cifras da prefeitura e argumenta que o mercado mexicano de reciclagem não consegue absorver mais de 20% do lixo gerado no país.

Apontando para os pepenadores que vasculhavam o lixo em seu caminhão, o motorista David Cosme propôs uma solução mais simples: "Por que não lhes dão contratos de verdade?".

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