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Procura por vida alienígena volta à cena

Por DENNIS OVERBYE

HAT CREEK, Califórnia - Operando com dinheiro e equipamentos conseguidos com órgãos públicos e com milionários do Vale do Silício, um resoluto grupo de astrônomos reiniciou recentemente uma das mais simbólicas buscas da ciência moderna, a procura por inteligência extraterrestre (Seti, na sigla em inglês). A caçada havia sido interrompida no ano passado por falta de verbas.

No começo de dezembro, 42 radiotelescópios do Allen Telescope Array ("Sistema de Telescópios Allen") voltaram a pular de estrela em estrela na constelação de Cygnus, tentando escutar transmissões de civilizações alienígenas.

A vida avançada e a tecnologia podem ser raras no cosmos, disse o astrônomo Geoffrey Marcy, da Universidade da Califórnia, Berkeley, "mas elas certamente estão por aí, porque o número de planetas semelhantes à Terra na Via Láctea é simplesmente grande demais".

Um simples "oi", um chiado ou um incompreensível fluxo de números capturados por uma antena iriam mudar a história, respondendo a uma das mais profundas questões humanas: estamos sozinhos no Universo?

Após décadas de sondas especiais e bilhões de dólares gastos pela Nasa, ainda existe apenas um exemplo de vida: a biologia terráquea, baseada no DNA.

"Nesse campo", disse Jill Tarter, astrônoma do Instituto Seti, em Mountain View, no estado daCalifórnia, "o número 2 é o que importa".

Mas o Seti tem enfrentado problemas decorrentes da política, da falta de verbas e do desafio tecnológico de vasculhar o que astrônomos chamam de "palheiro cósmico": 100 bilhões de estrelas na galáxia e 9 bilhões de canais de rádio de banda estreita pelos quais os alienígenas poderiam estar tentando nos saudar.

No primeiro semestre de 2011, a Universidade da Califórnia ficou sem dinheiro para manter o observatório. Os astrônomos estão negociando um acordo para partilhar os telescópios com a Força Aérea dos EUA, que deseja rastrear satélites e lixo espacial.

Verbas federais não são gastas na procura por sinais de rádio extraterrestres desde 1993, quando o Congresso cancelou uma busca patrocinada pela Nasa.

O Allen Array deve seu nome a Paul Allen, cofundador da Microsoft, que ofereceu US$ 25 milhões para iniciar o projeto, pertencente à universidade e ao Instituto Seti. Ele deveria consistir em 350 antenas com seis metros de diâmetro cada. O sistema completo poderia mapear o céu inteiro numa noite.

No entanto, a contribuição de Allen pagou apenas 42 antenas, que começaram a operar em 2007. Os astrônomos dizem que precisariam de outros US$ 55 milhões para completar o sistema.

O projeto ganhou força em 2009, quando Tarter recebeu um prêmio de US$ 100 mil na conferência TED -sigla de Tecnologia, Entretenimento e Design- na Califórnia.

A palestra dela lá motivou a Dell e a Intel a doarem equipamentos valiosos.

E, no ano passado, o projeto ganhou um impulso psicológico, quando a Nasa - cuja sonda Kepler tem enviado notícias sobre Cygnus- publicou sua primeira lista de 1.235 candidatos a exoplanetas.

Mas a verba se esgotou justamente quando o observatório começava a pesquisar os planetas da Kepler.

Um apelo por financiamento resultou em cerca de US$ 220 mil -equivalente a aproximadamente dois meses de despesas operacionais.

A Força Aérea vai bancar uma parte das operações do Hat Creek, que custam cerca de US$ 1,5 milhão (mais US$ 1 milhão por ano para pagar os astrônomos).

Em dezembro, Tarter e seu marido, o radioastrônomo William Welch, voltaram a Hat Creek. Perto dali, numa casa modesta, zuniam prateleiras com computadores e outros equipamentos eletrônicos. "Bem-vindas todas as espécies", diz o capacho.

No interior da casa, uma fileira de números piscou num dos computadores, indicando que um sinal de banda estreita -a assinatura de uma fonte artificial- havia sido detectado.

Os equipamentos se dedicaram então a eliminar o novo sinal das suas considerações. O movimento da Terra, por exemplo, faz com que a frequência de um sinal vindo do céu flutue. A lista a ser verificada tem crescido ao longo dos anos, segundo Tarter.

Os computadores checam cinco vezes um sinal persistente, aproximando e afastando o telescópio da sua direção, antes de chamar alguém para discuti-lo.

O próximo passo seria ligar para um observatório a oeste (a direção em que o céu gira) para pedir uma observação continuada.

Num dramático momento em 1998, Tarter e seus colegas trabalhavam no observatório de Green Bank, na Virgínia, quando receberam um sinal que simplesmente não conseguiam eliminar. Finalmente, eles perceberam que estavam captando o satélite europeu Soho.

"Fomos para a cama", disse Tarter. "Agora, nem posso imaginar como será a coisa real."

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