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Um jukebox global é digitalizado

Por LARRY ROHTER
O folclorista Alan Lomax foi um prodigioso colecionador de música tradicional de todo o mundo. Muito antes de surgir a internet ele já visualizava um "jukebox global" para disseminar o material que tinha coletado.

Uma década após sua morte, a tecnologia finalmente chegou até onde alcançava a imaginação de Lomax. O imenso arquivo dele abrange cerca de 5.000 horas de gravações de áudio, 120 mil metros de filme, 3.000 fitas de vídeo, 5.000 fotos e pilhas de manuscritos. Tudo isso está sendo digitalizado, para que a coleção possa ser acessada on-line. Cerca de 17 mil faixas de música já estão disponíveis para streaming gratuito e futuramente é possível que algumas delas sejam disponibilizadas para venda como CDs ou downloads digitais.

Em janeiro, o selo Global Jukebox lançou "The Alan Lomax Collection From the American Folklife Center", uma amostra de 16 gravações, que pode ser descarregada digitalmente.

Lomax gravou não apenas em todos os cantos dos Estados Unidos, mas também no Caribe, Reino Unido, Irlanda, Espanha, Itália e União Soviética. As gravações suscitaram seu interesse por comparar estilos de dança globais, razão pela qual o arquivo também inclui algo que, segundo Anna Lomax Wood, filha de Lomax, é "a maior coleção particular no mundo de filmes de dança de todas as partes do mundo".

"Alan Lomax foi uma figura épica, alguém dotado de um apetite musical onívoro e épico", comentou o escritor Tom Piazza, que escreveu um texto de introdução no "The Southern Journey of Alan Lomax", um livro de cerca de 200 fotos de Lomax que será lançado em setembro nos EUA.

A partir de meados dos anos 1930, Lomax foi o maior folclorista musical dos Estados Unidos. Ele foi o primeiro a gravar Muddy Waters e Woody Guthrie. Seus esforços foram responsáveis também pelo sucesso da música folk e do skiffle nos Estados Unidos e no Reino Unido, popularidade essa que moldou a revolução da música pop nos anos 1960 e depois.

Numa época em que havia uma divisão rígida entre o alto e o baixo na cultura americana e quando a música afro-americana e hillbilly eram desprezadas, Lomax argumentou que esses estilos populares representavam a maior contribuição dos Estados Unidos à música.

Lomax dedicou suas duas últimas décadas de vida ao projeto Global Jukebox. Procurando elementos em comum entre estilos musicais de todo o mundo, ele começou desde cedo a usar computadores pessoais, criando algo semelhante aos algoritmos empregados hoje pelo Pandora e por outros serviços de streaming.

A Association for Cultural Equity (Associação para a Equidade Cultural), responsável pelo Global Jukebox, tem trechos de 45 segundos de gravações de Lomax disponíveis em seu web site há vários anos, mas agora está digitalizando a íntegra da coleção. Um processo semelhante está em curso com os programas de rádio, as palestras e entrevistas de Lomax. Algumas músicas estão sendo vendidas em formatos que vão desde iTunes e CDs até LPs de vinil.

Músicos, educadores e outros buscam a coleção. O novo álbum de Bruce Springsteen, "Wrecking Ball", usa amostras do arquivo em duas canções.

Há pouco, o Google se interessou pelo projeto, contou Wood, interessado em criar um site para a preservação de línguas ameaçadas de extinção. Os arquivos de Lomax também contêm materiais que obteve de outros pesquisadores pelo mundo, incluindo amostras de idiomas que estão desaparecendo.

"Alan enxergava valor incomensurável em algo inusitado que todas as outras pessoas ignoravam ou ao qual não davam valor", opinou Don Fleming, diretor da associação. "Para mim, a simples ideia dele com seu gravador, tirando o pó do aparelho enquanto gravava, me lembra o punk rock."

ON-LINE: ARQUIVOS DE LOMAX
Músicas, vídeos e fotos de Alan Lomax: nytimes.com
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