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LINDIWE MAZIBUKO

Debate racial agita política sul-africana

POR JOHN ELIGON

CIDADE DO CABO - Ela tem raízes inconfundivelmente africanas, como a terra natal (Suazilândia), uma das suas línguas maternas (o zulu) e a pele marrom.

Mas, para muita gente, Lindiwe Mazibuko não é suficientemente negra. Durante uma sessão neste ano no Parlamento sul-africano, um ministro a comparou a um coco (marrom por fora e branca por dentro). Um político rival disse que Mazibuko se comporta como "a menina do chá", uma criada, para a líder do principal partido de oposição da África do Sul. Usuários do Twitter disparam insultos raciais e a chamam de ingênua.

Até um membro do partido dela declarou que, fechando os olhos para escutar Mazibuko, "você diria que uma pessoa branca está conversando com você".

Uma profunda ambiguidade cerca Mazibuko -e isso representa um grande desafio para o partido dela, a Aliança Democrática, em seu esforço para tirar o CNA (Congresso Nacional Africano) do poder no país.

Mazibuko, 31, tornou-se a primeira líder negra da bancada parlamentar da Aliança Democrática, após uma votação interna em outubro. Ela agora encarna a tentativa do partido de diversificar sua liderança, apagar seu estereótipo de partido da elite branca do país e fazer frente ao CNA, que na última eleição nacional, em 2009, obteve mais de 65% dos votos, enquanto a Aliança Democrática somou 16% das preferências.

No entanto, críticos de Mazibuko dizem que sua formação em escolas particulares e seu refinado sotaque britânico são indícios de alienação em relação à maioria dos sul-africanos negros. Eles dizem também que a Aliança Democrática levou Mazibuko ao segundo cargo mais importante do partido, apesar da sua inexperiência, simplesmente por ela ser negra, para ampliar o apelo da AD.

"Ela só pode atrair um tipo particular de jovem negro, não todo o espectro dos jovens negros", afirmou Baleka Mbete, presidente do CNA. "Eu não acho que as pessoas que ela atrai sejam a maioria."

Mas há uma população inexplorada de jovens eleitores negros criados na classe média, como Mazibuko -eleitores que falam como ela, nasceram após o "apartheid" e poderão votar para presidente pela primeira vez em 2014. A esperança da Aliança Democrática é de que esse eleitorado não tenha, como seus pais e avós, um grande vínculo emocional com o CNA, que libertou os negros do "apartheid". O partido espera que, em vez disso, os jovens negros vejam em líderes como Mazibuko alguém que represente seus interesses.

"As pessoas não podem ser julgadas pelo que são?", perguntou Helen Zille, líder da AD. "Ela é inteligente e muito capaz."

Mazibuko mantém-se firme diante dos questionamentos raciais. Sugerir que todos os negros devem ser de um jeito era o pensamento do "apartheid", disse ela. Durante algumas participações em programas de rádio, contou, as pessoas ligavam querendo ouvi-la falar zulu.

"Eu me recuso a fazer isso", disse ela. "Não acredito que ser negro seja um prêmio que as pessoas possam lhe conceder."

O pai de Mazibuko era banqueiro e sua mãe era enfermeira. Quando ela tinha seis anos, seus pais se mudaram com a família da Suazilândia para a África do Sul, então sob o regime do "apartheid", por acreditarem que, apesar do racismo, o país poderia oferecer novas oportunidades.

Ela se interessou por política depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, quando estava no Reino Unido estudando canto lírico. Disse que ficou perturbada com a forma como os muçulmanos eram retratados -parecia o racismo que havia definido a política sul-africana, afirmou.

"Aquilo me fez parar e pensar nas coisas que eu poderia fazer no futuro, jogou um pouco de luz sobre isso." Mazibuko também começou a rever sua opinião a respeito do papel do governo na vida das pessoas. Antes, a vida no subúrbio a levara a crer que o governo precisava melhorar a vida das pessoas; depois, ela passou a acreditar que o governo deve dar poderes às pessoas para que elas se virem sozinhas.

"Não acredito que ser negro seja um prêmio que possam lhe conceder."

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