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O fracasso anunciado de um grande filme

Mais uma vez, "o ego vence a lógica em Hollywood"

Por BROOKS BARNES

LOS ANGELES - Em 1987, pouco antes do lançamento de "Ishtar", a Columbia Pictures percebeu que o filme fracassaria de maneira catastrófica. Mas, em vez de cortar os gastos de publicidade para reduzir os prejuízos -como aconselhou o principal marqueteiro do estúdio-, a Columbia fez o contrário, gastando mais dinheiro em anúncios.

O motivo? O estúdio estava desesperado para manter as boas relações com os dois astros de "Ishtar", Warren Beatty e Dustin Hoffman. "O ego vence a lógica em Hollywood", disse Peter Sealey, que era chefe de marketing da Columbia na época.

Outro exemplo é "John Carter", um épico de ficção científica de grande orçamento dos Walt Disney Studios que estreou em meados de março e não fez sucesso. A Disney gastou generosamente no filme, em grande parte para agradar a um de seus mais importantes talentos criativos: Andrew Stanton, o diretor baseado na Pixar dos megassucessos "Procurando Nemo" e "Wall-E".

"John Carter", que custou US$ 350 milhões em produção e comercialização e foi dirigido por Stanton, faturou US$ 30,6 milhões nas bilheterias americanas no primeiro fim de semana, um número bem abaixo do necessário para justificar seu orçamento.

Esse resultado é tão ruim que os analistas estimam que a Disney será obrigada a fazer uma redução contábil trimestral de até US$ 165 milhões. A quantia vai depender das vendas de ingressos no exterior, onde "John Carter" faturou cerca de US$ 71 milhões no primeiro fim de semana, um total melhor do que a Disney havia temido.

A rentabilidade de "John Carter" sempre foi um desafio. Por causa de seu custo enorme e do fato de as vendas de ingressos serem divididas com os cinemas, os analistas dizem que o filme precisaria faturar mais de US$ 600 milhões para empatar.

Rich Ross, presidente dos Walt Disney Studios, disse: "Fazer cinema sempre envolve riscos. Ainda é uma arte, e não uma ciência, e não há uma fórmula de sucesso. Andrew Stanton é um cineasta incrivelmente talentoso e bem-sucedido, que com sua equipe deu seu trabalho duro e sua visão para fazer "John Carter". Infelizmente, ele não se conectou com as plateias tanto quanto desejávamos".

Houve sinais de advertência desde o início. Stanton nunca tinha dirigido um filme com atores. Ele quis elencar atores desconhecidos. E o roteiro, baseado em uma história de Edgar Rice Burroughs que saiu serializada em revista em 1912 e mais tarde foi publicada em livro como "A Princesa de Marte", era uma mistura assustadora, começando durante a Guerra Civil e passando para o Velho Oeste antes de saltar para um planeta chamado Barsoom (Marte), o lar dos Tharks, criaturas grotescas de quatro braços.

Mas Stanton fez um lobby apaixonado para dirigir o filme, e havia um forte argumento para aceitá-lo. Stanton, cujos créditos como roteirista incluem "Monsters Inc." e os três filmes "Toy Story", tinha um forte histórico com material difícil. As pessoas estavam céticas sobre "Wall-E", que trata de um computador que não fala, mas Stanton o transformou em um grande sucesso, com mais de US$ 521 milhões em vendas de ingressos globais; "Procurando Nemo" faturou US$ 868 milhões e os dois ganharam Oscars.

Acostumado a retrabalhar cenas incessantemente na Pixar, Stanton não se adaptou bem às restrições habituais da ação ao vivo -acertar na primeira vez- e voltou para pelo menos duas refilmagens extensas.

"Tive de explicar na Disney: 'Vocês estão pedindo para um sujeito que só sabia fazer de uma maneira subitamente fazer com uma só refilmagem?'", explicou ao jornal "Los Angeles Times". "Eu disse: 'Não vou acertar na primeira vez. Eu lhes digo isso desde já'".

Quando "John Carter" estreou em Los Angeles, no mês passado, havia sofrido meses de ridicularização na internet e assumido áurea fúnebre. "Nunca vi algo saudável ser tratado como um cadáver", disse Ross à revista "Variety".

As resenhas não foram tão ruins quanto alguns esperavam. Mas não foram boas, e os críticos chamaram o filme de um híbrido confuso de outros filmes: "Avatar" com "Guerra nas Estrelas", "Gladiador", "Príncipe da Pérsia" e qualquer faroeste de John Ford.

Se Stanton tem algum reconforto, talvez seja que está em boa companhia. Baz Luhrmann está lá com "Austrália", juntamente com George Lucas por "Howard, o Super Herói" e Michael Cimino por "O Portal do Paraíso". E, é claro, Hoffman e Beatty por "Ishtar".

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