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Uma estrela do pop jazz divide os holofotes

Esperanza Spalding prefere o conforto de um conjunto musical

Por NATE CHINEN

Antes de voar a Los Angeles para cumprir seus deveres no Grammy, no mês passado, Esperanza Spalding fugiu de uma pergunta sobre o impacto do prêmio de melhor artista revelação em sua vida e carreira.

"Mais atenção" foi sua resposta inabitualmente sucinta, mas ela explicou melhor. "Antes do Grammy, no ano passado, eu dizia que minha vida era como a de uma formiga operária, indo e vindo para conseguir comida. De repente, alguém está me olhando e me seguindo." Ela ergueu uma lupa imaginária. "Mas agora vejo que o holofote pode acabar sendo diretamente útil à música."

Essa convicção está presente em todo seu quarto álbum, "Radio Music Society", uma coletânea de canções de muito groove, quase todas originais, que é a versão de Spalding de um álbum de jazz e pop. Ao mesmo tempo, dezenas dos colegas dela, músicos de jazz, são citados nos créditos.

A inclusão deles significou muito para Spalding, que vem se atendo a suas afinidades com as formigas operárias, apesar de a percepção pública e de suas próprias ambições conspirarem para ungi-la rainha da colônia. Seu desejo utópico de dividir os holofotes não condiz muito bem com a natureza muito singular de seu estrelato.

Spalding, 27, cresceu em Portland, Oregon, e hoje divide seu tempo entre Nova York e Austin, Texas. Ela se destaca não apenas como contrabaixista no jazz ou cantora, mas também como um híbrido exótico das duas coisas.

"Desde a primeira melodia que tocamos juntos, ela tem um som lindo, que flui, e trouxe uma abordagem melódica real à parte do contrabaixo", comentou o saxofonista Joe Lovano, que ensinou Spalding numa aula conjunta no Berklee College of Music, em Boston, e a levou em turnê. Mais tarde Lovano formou o grupo Us Five, com Esperanza Spalding exclusivamente no contrabaixo, ao lado de um pianista e dois percussionistas. A banda teve um álbum indicado ao Grammy deste ano.

A baterista Terri Lyne Carrington, que conheceu Spalding em Berklee, a incluiu no elenco exclusivamente feminino de "The Mosaic Project", que no mês passado recebeu o Grammy de melhor álbum vocal de jazz (Spalding foi uma das cantoras do álbum). Recentemente as duas formaram um trio com a respeitada pianista de post-bop Geri Allen.

A força que o conjunto possui para Spalding é nítida. Quando a revista de jazz "DownBeat" decidiu publicar um artigo de capa sobre "Radio Music Society", ela sugeriu que a sessão de fotos também incluísse Lovano, Carrington e o baterista Jack DeJohnette, todos os quais aparecem no álbum.

"Uma coisa que me irrita um pouco é essa ideia de que o fato de as pessoas prestarem atenção emvocê seja bom para todo o mundo", disse Spalding.

"Mas é um feixe de luz tão concentrado que não é realista. A não ser que você diga algo tipo 'estou com ele!'." Ela dobrou um braço, como se fosse puxar para si a pessoa a seu lado. "A ideia desta sociedade é essa: sim, somos nós fazendo música. E para fazer este tipo de música realmente é preciso um 'nós'."

O álbum mistura canções de amor com crítica social. O single principal, "Black Gold", trata dos afro-americanos, remetendo a um legado cultural que antecede à escravidão.

As canções levantam perguntas, mas não apontam dedos. "Não acho que eu esteja assumindo uma postura. Estou convidando o ouvinte para um diálogo." Para Esperanza Spalding, a diferença parece tão clara quanto a distinção entre um vocal principal e a interação de uma banda.

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