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Com cautela, cineastas revelam a face de Mianmar

Por STEVEN LEE MYERS

Robert H. Lieberman chegou a Mianmar, ex-Birmânia, pela primeira vez em dezembro de 2008. Era outro período sombrio na longa história de repressão e isolamento do país, depois da repressão aos protestos populares liderados por monges no ano anterior. Lieberman não poderia ter imaginado que o "timing" de sua visita fosse ser tão afortunado.

Romancista, cineasta e professor de física na Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York, ele foi a Yangon para ensinar cinema e fazer anúncios de serviço público como parte do Programa de Especialistas Fulbright -um dos poucos esforços americanos de assistência a um país ao qual os Estados Unidos impuseram sanções. Recebeu a recomendação de não filmar.

Por isso ele filmou, não exatamente clandestinamente, mas com cautela suficiente para evitar, na maior parte do tempo, chamar a atenção em um país em que fotografar prédios governamentais, bases militares, pontes e até mesmo determinadas ruas é motivo para ser preso. Durante essa viagem e três outras que fez nos dois anos seguintes, Lieberman gravou 120 horas de vídeo documentando a vida num país belo, mas oprimido e pobre, justamente quando começavam a se manifestar os primeiros indícios de mudanças políticas.

Editado e reduzido para 88 minutos, o resultado de seu trabalho é o documentário "They Call It Myanmar: Lifting the Curtain", exibido em Nova York no mês passado. Lieberman completou o filme no ano passado, justamente quando o novo governo de Mianmar -eleito em votação denunciada universalmente como sendo antidemocrática- deu início a uma abertura. Com isso, o filme tornou-se uma exposição pontual de um país pouco conhecido.

"Meu objetivo foi trazer Mianmar para a consciência ocidental", disse Lieberman, 71. "Eu quis dar um rosto ao país."

Mianmar também vem recebendo muita atenção de cineastas atraídos pela luta heróica de seu movimento democrático, liderado há um quarto de século pela ganhadora do Nobel da Paz Daw Aung San Suu Kyi.

O diretor francês Luc Besson filmou "The Lady", cinebiografia de Aung San Suu Kyi. O filme é estrelado por Michelle Yeoh e terá lançamento comercial amplo até julho deste ano.

A voz de Aung San Suu Kyi é a mais famosa no filme de Lieberman, mas apenas uma entre dezenas de pessoas que ele entrevistou -algumas são mostradas com rostos escurecidos.

"Uma mão autoritária, firme e forte não pode criar unidade", diz a dissidente no filme, explicando a mentalidade dos governantes militares até a eleição do novo presidente U Thein Stein, de viés reformista. "Ela só proporciona aparência de unidade."

Durante suas visitas ao país, Lieberman percebeu as recentes mudanças políticas, mas o filme não trata da democratização.

Ele explicou que a maioria dos mianmarenses permanece cética e ainda tem medo. "Pensar não é uma opção", diz uma mulher, descrevendo a natureza orwelliana do país. Ela não aparece na tela.

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