Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Criando força e beleza a partir do assustador

Por LAURA M. HOLSON

Claire Boucher nunca usou um vestido de carne. De vez em quando a cantora canadense de synth pop, que se apresenta sob o nome artístico de Grimes, usa uma peruca colorida no palco. No momento, porém, está dando preferência a extensões nos cabelos.

"Não tenho nenhuma peça de grife", disse Boucher, 23. Ela usou um vestido que tinha trajado no baile de formatura no vídeo do assustador "Vanessa", do ano passado, que descreveu como reflexões pop aleatórias. E ela viaja sem acompanhantes.

Sua batida melancólica e psicodélica de electro dance fez dela a queridinha do festival de música South by Southwest do ano passado, em Austin, no Texas. Mas ela está muito distante de gente como Nicki Minaj, Lady Gaga e Rihanna. Desde fevereiro, porém, quando lançou "Visions", seu terceiro álbum, é possível que ela esteja roubando alguns fãs alheios.

Como muitas popstars, Boucher só começou a fazer música quando já era adulta. Nascida e criada em Vancouver, na Colúmbia Britânica, ela se mudou para Montreal em 2006 para estudar neurociência e filosofia na Universidade McGill e se apaixonou pelo cenário musical underground da cidade. Um ano depois, começou a passar suas noites no Lab Synthèse, um espaço de performances musicais experimentais onde nasceu seu selo musical, Arbutus Records. Além disso, Boucher fez trabalhos ocasionais como modelo.

O que lhe faltava em formação musical ela compensava em curiosidade. "Todo o mundo cantava backup para todo o mundo, porque queria", contou. "Foi fácil aprender." Um amigo a ensinou a usar o GarageBand, da Apple, para gravar loops vocais.

Agora Boucher produz sua própria música e coloca 50 ou mais camadas vocais diferentes por canção, criando um som etéreo. Pense em uma prima mais jovem de Enya, descolada e festeira.

As influências musicais de Boucher são em grande parte femininas. "Ouço muita música medieval", contou. Uma de suas favoritas é Hildegard de Bingen, freira católica alemã e compositora melancólica que fundou dois conventos no século 12. Outra é a cantora Mariah Carey.

"A música dela é como um bolo de sete camadas", falou Kayne Lanahan, fundador do festival de música Savannah Stopover. "Depois de ser ouvida repetidas vezes, não envelhece."

Boucher ganhou um incentivo no ano passado quando fez turnê com a cantora sueca e ex-modelo Lykke Li, que funde música pop e eletrônica. Segundo ela, o fato de cantar em anfiteatros diante de milhares de pessoas a "obrigou a virar uma artista para o público".

Isso também exigiu que ela definisse seu estilo pessoal, que, inicialmente, pendia para olhos marcados com delineador preto, cabelos em cores fortes, tênis e casaco com capuz. No vídeo "Vanessa", que ela própria dirigiu, Boucher e suas amigas dançam usando vestidos e maquiadas com giz e batom cor de cereja.

"Eu quis que fosse forte e sexy, mostrando a beleza das mulheres, mas com um lado soturno", disse a cantora. "Gosto de criar beleza a partir de coisas assustadoras."

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.