Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Disputando influência em Mianmar

Por JANE PERLEZ

HSIPAW, Mianmar - Enquanto trabalhadores chineses abrem com escavadeiras as valas por onde passarão dutos levando óleo e gás do norte de Mianmar à China, o maior conglomerado energético chinês está pagando em dinheiro vivo pelas terras e árvores no trajeto dos dutos e construindo escolas e clínicas para algumas das pessoas mais pobres do planeta.

A compensação oferecida pela Corporação Nacional de Petróleo da China reflete a dura lição que o país aprendeu sobre como agir no novo e democrático Mianmar, onde no ano passado a construção de uma hidrelétrica chinesa foi suspensa por causa da indignação popular contra a suposta atitude arrogante da China com relação à população e ao ambiente birmaneses.

A abordagem mais suave reflete também cálculos frios numa crescente disputa com os Estados Unidos por influência regional. Num momento em que Mianmar inicia uma abertura após décadas de ditadura militar e melhora suas relações com os americanos, a China teme ameaças a uma parceria estratégica que lhe oferece acesso ao oceano Índico e um atalho para o fornecimento petrolífero do Oriente Médio. Os dois lados se empenham ao máximo em ficar bem com Mianmar.

Os EUA estão de mãos atadas para oferecer assistência por causa das sanções econômicas, que só podem ser suspensas depois que Mianmar realizar eleições parlamentares transparentes, resolver conflitos com minorias étnicas e libertar mais presos políticos.

Os chineses, acostumados a uma lealdade inabalável de Mianmar, defrontam-se agora com um novo governo liderado pelo presidente Thein Sein, que já deu sinais de desejar uma menor dependência em relação aos velhos amigos.

Em 1° de abril, a ex-Birmânia realizou eleições parlamentares e apenas pequenas irregularidades foram relatadas. O partido de Aung San Suu Kyi -militante democrática silenciada durante duas décadas pelos generais- ganhou por ampla maioria. Os resultados mostraram um forte apoio à oposição entre militares e funcionários públicos.

No que talvez seja o maior símbolo da abertura de Mianmar para o Ocidente, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, visitou o país em dezembro, algo inédito em 50 anos. Washington também restabeleceu relações diplomáticas plenas com o país.

"É difícil para os chineses verem o avanço dos EUA em Mianmar como algo que não tem a ver com a China", disse Yun Sun, especialista em política externa chinesa. "Os Estados Unidos são uma potência global. É natural que desejem uma relação com Mianmar. Mas a China tinha um monopólio e, se você precisa partilhá-lo, fica difícil de engolir. Por isso, os chineses estão irritados."

A China ainda tem presença forte em Mianmar. Pequim já despejou bilhões de dólares no país e os EUA não conseguem competir com isso, segundo autoridades americanas. Um empresário birmanês disse que, se os EUA insistirem nas sanções e a economia local não se erguer, a China sairá em socorro com grandes empréstimos e projetos de infraestrutura. Só o novo gasoduto chinês, com inauguração prevista para 2013, deve gerar bilhões de dólares.

Por esse motivo, Washington precisa adotar uma abordagem mais pragmática, disse o birmanês Aung Naing Oo, vice-diretor do Instituto Vahu do Desenvolvimento, organização da Tailândia que ajuda refugiados de Mianmar. "Ao manter as sanções, os EUA estão inadvertidamente ajudando os que desejam nos levar de volta aos velhos tempos."

Por enquanto, a China está ressentida com a reação de Mianmar ao projeto da barragem, que deveria ser construída nas cabeceiras do Irrawaddy, o maior rio do país. O projeto atraiu ampla resistência no país e despertou uma aberta antipatia à China.

Cerca de 90% da energia da usina seria destinada à Província chinesa de Yunnan, embora menos de 20% dos lares birmaneses tenham acesso a eletricidade, segundo o Banco Mundial. Milhares de aldeões foram transferidos à força pelos militares. Receberam indenizações como televisões de 21 polegadas.

No entanto, não está claro ainda se o governo birmanês irá sucumbir ao descontentamento chinês e autorizará a retomada das obras da barragem. Enquanto isso, a construção do duto segue em ritmo acelerado. Caminhões carregados atravessam ruidosamente as aldeias o tempo todo. Escavadeiras trabalham sem parar abrindo valas durante 12 horas por dia, todos os dias da semana.

A Corporação Nacional de Petróleo da China recentemente doou uma nova escola à região, localizada cerca de 10 km a nordeste de Mandalay.

"Eles constroem um duto perto daqui para a economia deles próprios", disse a professora de matemática Swe Oo.

"Eles levam muitos recursos nossos e doam de volta um pouco aqui e ali. Mas estou feliz e animada por ter uma boa escola nova onde lecionar."

ON-LINE: INFLUÊNCIA CHINESA
Fotos mostram a presença da China em Mianmar nytimes.com; procure por "Myanmar" e "China"

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.