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Fantasmas do Iraque assombram a CIA

Por JAMES RISEN

WASHINGTON - Ao tentarem entender as ambições nucleares do Irã, os analistas e demais integrantes da CIA estão muito cientes de que a credibilidade da agência está novamente em jogo, em meio a ameaças de intervenções militares.

O desastre da inteligência a respeito das supostas armas de destruição em massa no Iraque de Saddam Hussein influenciou a forma como eles fazem seu trabalho, motivando novas salvaguardas que obrigam os analistas a serem mais céticos ao avaliar pistas e cautelosos ao tirarem conclusões.

Ex-funcionários de inteligência dizem que isso mostra uma vigilância adequada ao lidar com informações nebulosas, ao passo que alguns argumentam que a agência está pecando por excesso de cautela a respeito do Irã e relutante em assumir a culpa por qualquer descoberta que possa levar os EUA ao derramamento de sangue.

"Para muitos na comunidade de inteligência, há uma sensação de que eles não querem repetir o mesmo erro", disse Greg Thielmann, ex-analista de inteligência do Departamento de Estado, que deixou o cargo em protesto contra a suposta politização pelo governo Bush de informações que embasaram a guerra do Iraque.

"A comunidade de inteligência como um todo tem agora melhores práticas, em parte por causa da cicatriz que ainda guarda do Iraque", acrescentou Thielmann, hoje ligado à Associação para o Controle de Armas, em Washington.

Paul Pillar, ex-analista-sênior de Oriente Médio da CIA, disse crer que os analistas estejam se guiando pelos fatos ao fazerem avaliações sobre o Irã, mas que certamente a sombra do Iraque pesa.

"Como funcionários de inteligência são seres humanos, não se pode descartar a possível tendência de supercompensar erros do passado", disse Pillar, hoje diretor de pós-graduação do Programa de Estudos da Segurança, na Universidade Georgetown, em Washington.

Segundo funcionários graduados de inteligência, os analistas acreditam que o Irã está ampliando sua infraestrutura e capacidade tecnológica para se tornar uma potência nuclear, mas que a liderança iraniana não se decidiu por fabricar uma bomba atômica.

Atuais e ex-altos funcionários americanos reconhecem, no entanto, que existem lacunas significativas no seu conhecimento e que os analistas podem não ser capazes de detectar com rapidez uma eventual decisão iraniana de retomar o programa de armas, que eles concluíram ter sido suspenso em 2003.

Após os erros de avaliação no Iraque, a CIA e outras agências de inteligência impuseram novos freios e contrapesos, incluindo a exigência de que analistas contestem as conclusões de seus colegas, buscando possíveis erros ou fraquezas.

A comunidade de inteligência agora também determina que os analistas saibam muito mais acerca das fontes das informações recebidas por espiões humanos e tecnológicos dos EUA.

Ao contrário do que ocorreu no prelúdio da guerra do Iraque, quando muitos críticos acusaram o governo Bush de selecionar informações compatíveis com suas políticas, alguns analistas externos dizem não ver sinais de que o governo Obama estaria pressionando os funcionários de inteligência a encontrarem respostas pré-determinadas.

"A inteligência foi politizada demais acerca do Iraque", disse Joseph Cirincione, presidente da entidade global de segurança Ploughshares Fund. Segundo ele, os relatórios eram "massageados" conforme subiam os degraus hierárquicos no governo "e as dúvidas e advertências eram removidas".

Agora, segundo ele, é diferente. "Não ouvi nenhuma queixa sobre o governo pressionando a comunidade de inteligência para distorcer a inteligência".

Mas alguns conservadores que apoiam uma ação mais agressiva para impedir o Irã de obter armas nucleares argumentam que a atual moderação da CIA é influenciada pela pressão política do governo.

O presidente Barack Obama já disse que só usará a força militar como último recurso contra o Irã e os conservadores argumentam que o governo não quer nenhum relatório sugerindo que os iranianos estão avançando velozmente rumo à bomba.

"Há uma pressão de cima para baixo para fazer com que as avaliações saiam de determinada maneira", disse John Bolton, pesquisador do Instituto da Empresa Americana e ex-embaixador do governo Bush junto à ONU.

Thomas Fingar, ex-presidente do Conselho Nacional de Inteligência, disse que os analistas precisam se dispor a fazer propostas duras com base em fragmentos de evidências, sem se distrair pelo que ele disse serem casos raros de pressão política ou por seus próprios lapsos anteriores.

"Aprender com os erros do passado é imperativo", afirmou. "Preocupar-se com eles é inútil."

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