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No escritório, espaço para movimento

Por LAWRENCE W. CHEEK

SEATTLE - O espaço de trabalho ideal para Martha Choe é uma mesa longa e estreita no vasto átrio na sede da Fundação Bill e Melinda Gates. A mesa recebe muita luz diurna através de mil metros quadrados de vidro e tem uma vista esplêndida da torre Space Needle. Não é privativo, nem silencioso, mas Choe tem tudo de que precisa em seu laptop e acha o lugar inspirador.

Choe, a diretora administrativa da fundação, teve uma influência considerável no projeto do edifício. "Nós trabalhamos de modos diferentes", diz. "Uma das lições é compreender a empresa e compreender do que seu pessoal precisa para trabalhar."

A fundação contribuiu com US$ 350 milhões do custo de US$ 500 milhões. O prédio foi projetado pela NBBJ, uma firma de arquitetura de 700 empregados. A estrutura é um acúmulo de ideias sobre o local ideal de trabalho do século 21 que a NBBJ vem explorando em todo o mundo.

Estes são os principais conceitos: burburinho -o ruído de conversas e comoção- é bom. Escritórios privativos e expressões de hierarquia têm um valor discutível. Menos espaço por trabalhador pode ser eficiente em termos de custo, mas também pode melhorar o ambiente de trabalho. A luz diurna é indispensável, em grande quantidade. Os encontros casuais geram energia criativa. E mobilidade é essencial.

Seattle serve como tubo de ensaio para esse ambiente de trabalho porque aqui há muito dinheiro para experimentar projetos, a força de trabalho é relativamente jovem e aberta à inovação e a cultura local dá valor à informalidade, autonomia e igualitarismo. As pessoas trabalham longos períodos quando se sentem respeitadas, mas não toleram ser tratadas como autômatos.

Manter-se competitivo exige encontrar as melhores ideias e o ambiente do escritório pode ser a incubadora para elas.

A própria NBBJ ocupa dois andares de 3.530 metros quadrados em um prédio de escritórios de altura média aqui em Seattle, que a empresa projetou em 2006. Não existe um escritório privativo ou cubículo e há um constante burburinho em baixo volume. Alguns clientes se perguntam como seus funcionários se concentrariam em um ambiente parecido.

"Você tem espaços onde vai buscar refúgio", diz Eric LeVine, um arquiteto da NBBJ. "Talvez você coloque seus fones de ouvido e as pessoas saberão que é para não incomodá-lo."

O nível de barulho é ainda mais alto na Russell Investments, uma firma de administração de bens que transferiu seus mil funcionários para a sede projetada pela NBBJ em outubro de 2010.

Janelas generosas oferecem vistas da baía Elliott. O presidente da empresa ocupa uma mesa comum entre outras mesas. (Uma placa de acrílico azul diz "Escritório do presidente".)

A nova sede poupa dinheiro. Mas os funcionários comentam principalmente sobre a sensação do ambiente e seu funcionamento. "Em 90% dos casos, são positivos", diz Ron Bundy, presidente do Russell Index Group. "Por causa de todo o burburinho, as pessoas sentem que fazem parte do sucesso da organização."

Mas ele reconhece que "o que pode ser um desafio é se eu tiver uma reunião com um cliente que vai chegar em dez minutos e eu precise me preparar para ela".

Alguns empregados da Russell ocupam o espaço de mesa que estiver disponível a cada dia. Alguns passam muito tempo fora do escritório, por isso a empresa economiza ao não manter um espaço vazio em sua ausência.

Nem todos os clientes da NBBJ adotaram esse conceito. Quando a R.C. Hedreen Company, uma firma de desenvolvimento imobiliário em Seattle, encomendou uma reforma, especificou escritórios privativos.

"Grande parte do nosso dia de trabalho é ocupado por tarefas que são melhor atendidas trabalhando sozinho em escritórios privativos", diz David Thyer, presidente da Hedreen.

Susan Cain, autora de "Quiet: The Power of Introverts in a World That Can't Stop Talking" ["Silêncio: O Poder dos Introvertidos em um Mundo que Não Consegue Parar de Falar"], diz que os introvertidos podem se isolar com fones de ouvido que eliminam o ruído -"o que é uma espécie de exigência insana em um ambiente de escritório, se você pensar bem", diz ela.

Cain afirma que os seres humanos têm uma necessidade fundamental de espaço pessoal: ela chama as residências de "zonas de segurança emocional".

Steve McConnell, diretor da NBBJ, diz que a transparência dos dois prédios em forma de bumerangue do campus da Fundação Gates é sua principal qualidade. As pessoas circulam pelos saguões com paredes de cortina de vidro. As escadas levam a polos com máquinas de café, copiadoras e grupos de móveis informais, para reuniões casuais.

"Estamos desafiando as pessoas a sair de sua zona de conforto", disse McConnell. "Por isso, há uma adaptação a um novo ambiente." Alguns funcionários diziam que o prédio é silencioso demais; então agora é proibido sussurrar na empresa.

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