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Tendências Mundiais

Dinheiro chinês inunda o Caribe

POR RANDAL C. ARCHIBOLD

NASSAU, Bahamas - Um estádio totalmente novo de US$ 35 milhões foi inaugurado aqui há algumas semanas, presente do governo chinês.

Dominica, uma pequena nação insular, recebeu uma escola primária, um hospital reformado e um estádio, também por cortesia de Pequim. Antígua e Barbuda ganharam usina elétrica e estádio de críquete, e uma nova escola está a caminho. A primeira-ministra de Trinidad e Tobago pode agradecer a empreiteiros chineses pelo caprichado trabalho feito na sua residência oficial.

O poderio econômico da China está fincando uma bandeira às portas dos EUA, no Caribe, na forma de uma enxurrada de empréstimos de bancos estatais e investimentos empresariais.

"Quando de repente você tem um novo jogador no hemisfério, obviamente é algo que vai ser assunto nos mais altos escalões de governo", disse Kevin Gallagher, professor da Universidade de Boston e autor do estudo sobre as finanças chinesas "The New Banks in Town" ["Os Novos Bancos do Pedaço", em tradução livre].

A maioria dos analistas não vê ameaça à segurança, observando que os chineses não estão forjando laços militares que possam evocar os temores de outra crise dos mísseis cubanos.

A China anunciou no fim de 2011 que vai emprestar US$ 6,3 bilhões a governos do Caribe, num grande acréscimo às centenas de milhões de dólares canalizados na última década na forma de empréstimos, doações e outras modalidades de assistência econômica.

Ao contrário do que acontece na África, na América do Sul e em outras partes do mundo, onde as incursões chinesas são motivadas pela busca por commodities, no Caribe, sua presença decorre principalmente de empreendimentos econômicos de longo prazo, como turismo e empréstimos, e da procura por aliados baratos, segundo analistas.

Despachos diplomáticos americanos divulgados pelo WikiLeaks e publicados pelo jornal britânico "The Guardian" mostravam diplomatas cada vez mais preocupados com a presença chinesa "a menos de 190 milhas [306 km] dos EUA". Uma teoria, num documento de 2003, sugeria que a China estaria arregimentando aliados numa "manobra estratégica", antevendo o fim da era castrista em Cuba, com a qual tem estreita relação.

Os chineses dão especial atenção às Bahamas. Além do novo estádio, trabalhadores chineses ajudam a construir o Baha Mar, obra de US$ 3,5 bilhões que será um dos maiores resorts da região.

Além disso, um banco estatal chinês aceitou semanas atrás liberar US$ 41 milhões para um novo porto e uma ponte, e uma grande Embaixada da China está sendo construída no centro.

O novo estádio, dizem autoridades bahamenses, é uma das várias arenas em que a China tem jogado por países do Caribe e da América Central, como gratidão por seu reconhecimento a "uma só China" -ou seja, sua recusa em reconhecer Taiwan, que as autoridades chinesas consideram ser parte do seu país.

Determinado a não ser marginalizado, Taiwan busca solidificar suas relações com São Cristóvão e Névis, Belize e Santa Lúcia -que em 2007 rompeu relações com a China em favor de Taiwan-, com projetos como um acordo de cooperação com Belize para desenvolver a piscicultura.

Tan Jian, conselheiro econômico da Embaixada da China nas Bahamas, disse acreditar que este "é só o começo" da presença chinesa no Caribe, o que ele descreve como um país em desenvolvimento usando seu crescente poder econômico para ajudar outros países em desenvolvimento.

As Bahamas permitiram que até 8.000 estrangeiros, a maioria chineses, trabalhem por estágios no Baha Mar, mas também exigiram empregos para 4.000 bahamenses, atenuando os temores de que os chineses estariam roubando trabalho. Empresas americanas também participarão da construção e operação do resort.

Tan minimizou qualquer competição com os EUA, cujos turistas, afirmou, irão se beneficiar. Os trabalhadores chineses aqui vivem em alojamentos nas obras, distantes da visão do público.

"Mal sabemos que eles estão aqui", disse James Duffy, que assistia a um treino de corrida ao lado do estádio, há alguns dias. Ele acrescentou, rindo: "A não ser pelas coisas grandes que eles constroem."

Colaboraram Karla Zabludovsky com reportagem da Cidade do México; Camilo Thame de Kingston, na Jamaica; e Prior Beharry de Port of Spain, Trinidad e Tobago

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