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Inteligência/Helena Mulkerns

O salmão céltico se agita de novo

WEXFORD, IRLANDA

Apesar dos sinais animadores de um lento mas constante retorno a uma economia mais saudável, a recessão ainda persegue a Irlanda. Ela se enreda com um terror digno de Yeats ao redor de nossas propriedades fantasmas, como uma emanação maligna deixada pelo chamado Tigre Céltico. A marca da época de pujança -emprestada de um slogan asiático- nunca foi um símbolo exato para a Irlanda.

Um mais apropriado poderia ser o Salmão do Conhecimento. Nas antigas sagas célticas, Fionn MacCumhaill tornou-se um grande guerreiro ao adquirir o puro conhecimento do salmão, que lhe deu habilidade e sabedoria para derrotar seus inimigos.

Hoje, a Irlanda enfrenta o desafio de emergir de seu marasmo em uma economia global vacilante, que é mais competitiva do que nunca. Como pode um salmão competir com um tigre?

Jovens empreendedores irlandeses estão captando rapidamente o potencial de novas oportunidades on-line. Os instrumentos de baixo custo e eficientes oferecidos, o marketing alimentado pela mídia social e análises acuradas podem ajudar pequenas empresas a crescer.

Com isso em mente, Innovate Wexford e FUSE, duas organizações locais em uma comunidade empresarial relativamente pequena, montaram a Techovate, uma conferência que aconteceu no mês passado na Irlanda.

Para acrescentar poder estelar, a Techovate convidou executivos da diáspora irlandesa que hoje trabalham na Microsoft, no Google, na IBM, no Facebook, na Cisco e no LinkedIn para aconselhar empresários locais.

"A conferência Techovate não é tanto sobre tecnologia em si", disse Brendan Ennis, seu principal organizador, mas sobre como as pequenas e médias empresas da Irlanda usam essa tecnologia para promover o crescimento empresarial e expandir perspectivas no exterior."

Segundo ele, as empresas têm poucas opções. "Sejamos francos, se não fizerem isso, ficarão para trás", acrescentou.

O objetivo é atingir as necessidades de famílias mais tradicionais da Irlanda, que muitas vezes se surpreendem com o mundo ao seu redor, transformado pela tecnologia.

A loja Wallace's existe há mais de 70 anos, localizada em uma curva do rio em um cruzamento entre três grandes cidades. Seus departamentos de tecidos, alimentos e ferramentas, conduzidos pela família, prosperaram até agora com os consumidores locais e uma política de marketing tradicional, calcada no rádio e nos jornais regionais.

"Hoje em dia seu concorrente não é mais a loja da cidade vizinha", nota Chrissie Wallace, um membro da família que dirige a loja, "mas o site na internet a dois continentes de distância."

A família investiu em uma consultoria para desenvolver uma estratégia on-line para a loja, que incluirá um site focado nas mídias sociais, campanhas em múltiplas plataformas, enfoques comunitários e presenças no Facebook e no Twitter.

Lorna Sixsmith adotou a nova mídia com a IrishFarmerette.com-blog sobre os negócios da agricultura irlandesa.

"Todos os empresários deveriam fazer blogs, seja qual for seu setor. Devemos mostrar para os potenciais compradores no exterior o fato de que nossos animais são alimentados principalmente com capim, que eles ficam ao ar livre a maior parte do ano", disse Sixsmith. "Ajudaria muito a venda de alimentos irlandeses no exterior se os leitores pudessem se identificar com a história por trás da comida que estão comprando e vissem as fotos."

O agricultor Seán Kiely usa a mídia social para combater a solidão em seu trabalho. "Eu coloquei meu iPhone no trator para entrar no Facebook ou no Twitter durante o dia", disse. Em outros lugares da fazenda, a tecnologia o ajuda a acompanhar nascimentos, mortes e movimentação dos animais, e uma pequena estação meteorológica virtual fornece dados cruciais sobre o solo e o clima em sua terra, para ele saber quando deve aplicar fertilizante ou plantar.

No campo da tecnologia em si, uma história de sucesso inspiradora é a de uma pequena firma de Wexford, a CarnsoreBroadband.com, que nasceu da necessidade de melhor cobertura em banda larga na zona rural. Começando com pouco dinheiro, a empresa construiu uma rede de voz e dados em apenas seis anos. Eles foram incluídos recentemente na lista para o prêmio Empresarial Irlandês 2012.

A tecnologia pode ajudar os irlandeses a superar a crise, mas não vai resolvê-la. A menos que jovens com potencial recebam o dinheiro necessário para desenvolver suas ideias, eles optarão por outra resolução irlandesa histórica: pegar o próximo avião. As lições que as novas empresas, comerciantes e agricultores irlandeses estão aprendendo sobre navegar o mundo da tecnologia podem ser aplicadas por seus homólogos em dificuldades na Grécia e na Espanha, em Portugal e na Itália.

Se o efeito retardado do boom deixou países de toda a Europa abalados, na turbulência econômica, o Salmão do Conhecimento irlandês ainda pode inspirar. USímbolo de sabedoria, habilidade e determinação, o salmão raramente falha em sua jornada corrente acima.

Helena Mulkerns é uma escritora que vive na Irlanda, especializada em edições personalizadas e de e-books. Envie comentários para intelligence@nytimes.com

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