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Wall Street perde apelo nas faculdades

POR KEVIN ROOSE

Bons alunos estão preferindo outras áreas profissionais

Outrora um ímã para os profissionais mais brilhantes dos EUA, Wall Street agora enfrenta um problema de recrutamento.

O prestígio do setor financeiro foi abalado pela crise financeira dos últimos anos e por escândalos que atraíram uma atenção negativa sobre os grandes bancos.

Recém-formado em Yale, Cory Finley procurou trabalho no fundo de hedge Bridgewater Associates, de Connecticut. Finley, 23, disse que havia "definitivamente algo de tentador" em um emprego com alto salário e prestígio. Mas, em vez disso, ele decidiu seguir seu sonho de ser dramaturgo.

"É algo que me preenche de uma forma profunda", disse Finley, que escreveu uma peça chamada "O Setor Privado", ambientada em um retiro de executivos.

O mais recente golpe para a imagem do setor decorreu de uma carta de demissão publicada em março na página de Opinião do jornal "New York Times", de autoria de Greg Smith, ex-executivo-chefe do Goldman Sachs. Smith, que criticou o banco por ter uma cultura que ele descreveu como "tóxica e destrutiva", disse ter tido plena noção disso ao enaltecer a universitários os benefícios de uma carreira no Goldman.

"Eu soube que era hora de ir embora quando percebi que não podia mais olhar os estudantes nos olhos e lhes dizer como este é um lugar ótimo para trabalhar", escreveu ele.

A polêmica gerou temores -até dentro do próprio Goldman- de que clientes nervosos e funcionários desmotivados possam dar no pé a qualquer momento.

Mas as firmas financeiras também deveriam recear que o incidente assuste os graduandos e alunos de escolas de administração, alguns dos quais têm olhado de soslaio para os antes prestigiosos empregos financeiros.

"Esse é um problema significativo para o Goldman", disse Adam Zoia, presidente da empresa de colocação profissional Glocap Search. "Seu status como o banco de investimentos aonde ir está definitivamente em risco."

Um ex-analista do Goldman recentemente resolveu sair porque as recompensas de um emprego financeiro não pareciam mais superar o desgaste do mesmo. Ele agora está trabalhando em uma pequena "start-up" na área de tecnologia, ganhando menos.

"Sempre houve gente infeliz [no setor financeiro]", disse ele, mas "este é o ano em que as pessoas estão percebendo que as coisas estão estruturalmente diferentes".

Os universitários estão cada vez mais optando por outras áreas. Os salários menores e as ondas de demissões apenas facilitam as coisas para alguns que já não viam Wall Street como um atalho para uma renda superior a US$ 1 milhão por ano.

E os estudantes agora enfrentam críticas nos campi. Grupos de manifestantes nas universidades de Yale e Harvard se postaram no ano passado diante de sessões de recrutamento do banco, gritando e segurando cartazes com mensagens como "Arrisque-se, não vá para finanças!".

Na Universidade Princeton (Nova Jersey), um grupo afiliado ao movimento Ocupe Wall Street interrompeu sessões do JPMorgan Chase e Goldman Sachs, conclamando seus colegas a se rebelarem contra uma suposta "cultura do campus que camufla os negócios escusos de Wall Street como caminho para uma carreira de prestígio".

O declínio no poder de sedução do setor financeiro tem se acelerado com o boom do setor de tecnologia.

Uma pesquisa de 2011 da consultoria Universum com 6.700 jovens profissionais apontou o Google, a Apple e o Facebook como os mais cobiçados locais para trabalhar; o JPMorgan Chase, banco mais bem colocado, ficou em 41°.

Chris Wiggins, professor de matemática aplicada na Universidade Columbia, em Nova York, disse estar vendo os alunos evitarem Wall Street e se voltarem para setores onde podem trabalhar e lucrar sem precisarem colocar sua moral sob o microscópio.

"A alegação dos bancos de investimentos de que eles servem a um propósito social ao 'azeitarem o capitalismo' se desgastou", disse Wiggins.

Mesmo nas melhores escolas, o foco está mudando. Em 2008, último ano de recrutamento antes da crise financeira, 28% dos formandos de Harvard que estavam empregados haviam ido para finanças. No ano passado, o número caiu para 17%.

Ben Pruden, aluno do segundo ano na Escola de Administração McCombs, da Universidade do Texas, Austin, pretende direcionar sua carreira para a área de tecnologia, apesar de conhecer gente no setor financeiro, inclusive sua irmã.

"Eu queria construir alguma coisa", afirmou. "Não quero estar trabalhando em um setor que na prática parasita outros setores. Não é suficientemente criativo para mim."

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