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Bancos europeus relutam em emprestar

POR MARK SCOTT

LONDRES - Os governos europeus não são os únicos às voltas com suas dívidas. Algumas empresas do continente estão na mesma situação.

Com a queda nas vendas e nos lucros, algumas companhias europeias têm dificuldades para pagar suas contas e os bancos relutam em oferecer empréstimos, num círculo vicioso para a economia.

"Há uma falta de confiança empresarial em toda a Europa", disse Jonathan Loynes, economista-chefe para a Europa da empresa de pesquisas Capital Economics, em Londres. "Os empréstimos para o setor privado estão se deteriorando e há um enorme estresse sobre a economia europeia."

A insolvência -dívidas de uma empresa superam seu patrimônio e seu fluxo de caixa- deve aumentar 12% neste ano na zona do euro, especialmente na Grécia, na Espanha e na Itália. Já nos EUA, a insolvência está caindo.

Em janeiro, a suíça Petroplus Holdings, maior refinaria petrolífera independente na Europa, declarou-se insolvente (o que na Suíça equivale a falir), depois que seus credores exigiram o pagamento de US$ 1,75 bilhão em dívidas vencidas.

É um mau presságio. Cerca de dois terços das companhias europeias que se tornam insolventes vão acabar falindo, segundo Ludovic Subran, economista-chefe da Euler Hermes, empresa parisiense de seguro de crédito. "O ambiente para os negócios piorou", afirmou.

O Fundo Monetário Internacional anunciou em 24 de janeiro que o Produto Interno Bruto da zona do euro deve encolher 0,5% em 2012. A retração deve ser mais acentuada no sul da Europa, onde a previsão é de uma redução de 2,2% na economia da Itália e de 1,7% na Espanha.

Em meio à recessão na Europa, o desemprego está subindo, a confiança dos consumidores está despencando e as encomendas para a indústria estão em franca queda. Empresas voltadas para o consumidor final estão sendo particularmente atingidas.

A rede francesa de supermercados Carrefour, que recentemente substituiu seu presidente, estima que o faturamento operacional do ano passado teve queda de 15% a 20%, refletindo a forte redução das vendas na França e no sul da Europa, em geral.

"Os bancos estão sendo mais conservadores com relação àqueles para quem emprestam e os problemas econômicos da Europa estão afetando as perspectivas futuras das companhias", disse Brian Lochead, sócio de serviços de recuperação empresarial da PricewaterhouseCoopers, em Londres. "Um problema está levando a outro."

Sem o salva-vidas financeiro oferecido pelos bancos, as empresas endividadas estão tendo de vender patrimônio e cortar investimentos. Companhias europeias com avaliação de crédito abaixo do grau de investimento possuem um total de US$ 72 bilhões em dívidas a vencer neste ano, segundo a Standard & Poor's. A inadimplência nesse grupo deve crescer até 8,4% em 2012, segundo estimativas da S&P.

"Se as companhias não forem viáveis e não tiverem acesso ao refinanciamento, os bancos não vão querer colocar dinheiro bom em cima do ruim", disse Angel Martin Torres, diretor de reestruturação para a Espanha da consultoria KPMG.

Os esforços das autoridades reguladoras para estimular o crédito ainda não deram resultado. Em dezembro, o Banco Central Europeu tomou medidas para oferecer ao setor financeiro € 489 bilhões (US$ 639 bilhões) em empréstimos subsidiados. As autoridades esperavam que o dinheiro estimulasse os bancos a retomarem a concessão de crédito.

Mas as instituições preferiram depositar o dinheiro junto ao próprio Banco Central, por segurança. No começo do ano, autoridades disseram que os bancos europeus haviam estacionado cerca de US$ 700 bilhões em depósitos "overnight" junto ao BC, maior nível desde a criação do euro, em 1999.

A crise pode abrir as portas para aquisições empresariais.

"Muitas companhias têm bons ativos, mas estruturas ruins de capital", disse Mark Sterling, gerente do departamento de reestruturações e insolvência do escritório de advocacia londrino Allen & Overy.

"Então, se elas são bons negócios subjacentes e não têm fontes de refinanciamento, isso cria oportunidades."

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