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Jovens buscam sonhos fora dos EUA

Filhos de imigrantes buscam sonhos fora dos EUA

Buscando a fortuna nos países que seus pais deixaram

Por KIRK SEMPLE

Samir N. Kapadia parecia estar em ascensão em Washington, passando de um estágio no Capitólio para empregos em uma fundação importante e uma consultoria. Mas sentia que seus dias tinham caído numa rotina.

Enquanto isso, amigos e parentes seus na Índia, seu país de origem, lhe contavam sobre suas vidas no país, que vive um boom de crescimento. Um estava criando uma empresa de comércio eletrônico, outro, uma firma de relações públicas e outros uma revista, uma incubadora de negócios e um site de fofocas e eventos.

"Eu ficava sentado lá ao telefone e diante do Facebook e os ouvia falar sobre essas novas empresas e sobre estarem fazendo todas essas coisas dinâmicas", recordou Kapadia, 25. "Comecei a sentir que meu trabalho das 9h às 17h já não era bom o suficiente." Ele pediu demissão do emprego e se mudou para Mumbai em 2011.

Especialistas dizem que cada vez mais filhos altamente instruídos de imigrantes que se radicaram nos EUA vêm deixando o país e se mudando para os países de origem de seus pais. Eles abraçam pátrias ancestrais que seus pais rejeitaram no passado mas que hoje são potências econômicas.

Alguns, como Kapadia, chegaram aos EUA quando eram crianças pequenas e ganharam cidadania americana; outros nasceram nos Estados Unidos, filhos de pais imigrantes.

Americanos de espírito empreendedor sempre buscaram oportunidades no exterior. Mas esta nova onda destaca a evolução da migração global e os desafios à competitividade e à primazia econômica dos EUA.

Em entrevistas, muitos desses americanos disseram não saber por quanto tempo vão viver no exterior; alguns aventaram a possibilidade de o fazerem pelo resto de suas vidas.

Em muitos casos, sua decisão de partir preocupou seus pais imigrantes. Mas a maioria falou que foi impelida a isso pelo cenário desanimador dos EUA em matéria de contratações ou foi atraída pelas perspectivas em outros países. "Os mercados estão se abrindo; as pessoas apresentam ideias novas todos os dias. Há tantas oportunidades para moldar e criar", comentou Kapadia, que agora é pesquisador da Gateway House, organização de pesquisas em política externa, sediada em Mumbai. "As pessoas daqui estão correndo muito mais rápido que as pessoas em Washington."

Durante gerações, os países menos desenvolvidos do mundo sofreram a chamada fuga de cérebros -a partida para o Ocidente de muitas de suas melhores cabeças. Esse movimento não parou, mas um fluxo em sentido inverso começou, especialmente em direção a países como China e Índia e, em grau menor, Brasil e Rússia.

Alguns acadêmicos e empresários acham que essa emigração não é necessariamente um mau sinal para os Estados Unidos. Eles dizem que os jovens empreendedores e profissionais altamente formados semeiam habilidades e conhecimentos americanos no exterior.

Ao mesmo tempo, esses profissionais ganham experiência no exterior e formam redes de contatos que podem levar de volta para os EUA ou para outros lugares, num padrão conhecido como "circulação de cérebros".

Mas os especialistas alertamque, na corrida global pelos talentos, o retorno desses emigrados aos EUA e às empresas americanas não é uma aposta segura.

"Essas pessoas se movimentam com agilidade; são as pessoas que, em certo sentido, seguem as oportunidades onde quer que elas apareçam", falou Demetrios G. Papademetriou, presidente do Instituto de Política Migratória, grupo sem fins lucrativos, com sede em Washington, que estuda os movimentos populacionais.

"Sei que haverá quem apresente argumentos sobre lealdade", disse ele. "Sei que a lealdade é importante numa guerra. Mas esta é uma guerra de outro tipo, que afeta a todos nós."

As autoridades na Índia dizem que nos últimos anos estão assistindo a um aumento acentuado na chegada ao país de pessoas de ascendência indiana. Apenas em 2010 foram pelo menos 100 mil, disse Alwyn Didar Singh, ex-alto funcionário do Ministério de Assuntos Indianos no Exterior.

Muitos desses americanos conseguem tirar proveito de redes familiares, habilidades linguísticas e conhecimentos culturais aprendidos pelo fato de terem crescido em famílias imigrantes.

Jonathan Assayag, 29, americano de origem brasileira que nasceu no Rio de Janeiro e foi criado no sul da Flórida, retornou ao Brasil no ano passado.

Formado pela Harvard Business School, ele trabalhava numa empresa de internet no Vale do Silício e tentou criar seu próprio empreendimento, sem sucesso. "Durante cinco meses, passei meus fins de semana na Starbucks, imaginando como criar uma startup nos EUA", recordou.

Ele se mudou para São Paulo e se tornou "empreendedor residente" numa firma de capital de investimento. Está abrindo um negócio de óculos on-line. "Falo a língua e entendo como as pessoas fazem negócios", comentou.

Jason Y. Lee nasceu em Taiwan e foi criado nos Estados Unidos. Quando, durante a faculdade, disse a seus pais que queria visitar Hong Kong, seu pai se negou a pagar a passagem de avião. "O pensamento dele era 'trabalhei tanto para trazer você para a América e agora você quer voltar à China?'" recordou Lee, 29.

Desde então, Lee abriu um negócio de importação e exportação entre os EUA e a China; estudou em Xangai; trabalhou para bancos em Nova York e Cingapura e criou na Índia um site de busca de empregos. Atualmente, trabalha para uma firma de investimentos em Cingapura. A oposição de seu pai diminuiu.

A indiana-americana Reetu Jain, 36, foi criada no Texas e sentiu vontade de se mudar para a Índia quando tirou folga de seu trabalho de auditora para viajar ao exterior e sentiu a "energia criativa" no mundo em desenvolvimento. Ela e seu marido, Nehal Sanghavi, que era advogado, se mudaram para Mumbai em janeiro de 2011. Abraçando uma paixão antiga, Reetu agora trabalha como coreógrafa e professora de dança, além de ter atuado em comerciais e um filme de Bollywood. "Estamos cercados por pessoas que querem experimentar coisas novas", disse ela.

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