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A nova busca de energia na África

Por MARK SCOTT

As maiores companhias de energia do mundo têm grandes planos para Moçambique. Até recentemente, o país africano era mais conhecido por sua longa guerra civil e tinha poucos recursos energéticos, comparado com gigantes regionais como Nigéria e Angola.

Mas, nos últimos dez anos, empresas como a Exxon Mobil, o Grupo BG do Reino Unido e a Eni da Itália usaram tecnologias de ponta, incluindo avanços na perfuração em alto-mar, para encontrar novas reservas de gás natural que estão transformando Moçambique no centro de um boom energético.

Moçambique pode ter mais reservas de gás natural -usado em tudo, de indústrias à geração de eletricidade- que a Noruega, a gigante da energia europeia.

E o país do leste da África não é o único em sua nova riqueza energética. A Tanzânia e o Quênia também estão atraindo bilhões de dólares em investimentos de companhias energéticas do mundo, que procuram reservas de petróleo e de gás no continente.

"A África será a espinha dorsal de nossa produção e crescimento nos próximos dez anos", disse a investidores em Londres Paolo Scaroni, presidente da italiana Eni. A Eni espera gastar US$ 50 bilhões para desenvolver projetos de gás natural na costa de Moçambique.

O ritmo acelerado da exploração na África Oriental faz parte de uma reviravolta na indústria energética global, que luta para se adaptar a uma série de mudanças. Essas vão do desastre nuclear no Japão no ano passado a subsídios reduzidos para a energia alternativa em meio à crise econômica e a uma ascensão dos combustíveis fósseis não convencionais, como gás de xisto, que se espalhou pelos continentes.

As mudanças foram especialmente drásticas na China. Em rápido crescimento, hoje, o país é o maior usuário mundial de energia e emissor de dióxido de carbono. A economia chinesa se tornou um consumidor enorme e voraz de recursos naturais.

"A demanda de bilhões de pessoas em todo o mundo para consumir energia não está desacelerando", disse Adi Karev, chefe do escritório de petróleo e gás da consultoria Deloitte em Hong Kong. "A capacidade das empresas de encontrar novas reservas de energia, sobretudo em locais remotos, está modificando o mercado global."

As novas descobertas, incluindo as chamadas areias de piche do Canadá, estão permitindo que empresas ocidentais, como a Royal Dutch Shell e a BP, garantam a produção futura.

Enquanto isso, companhias estatais, como a Sinopec da China e a Gazprom da Rússia, lentamente assumiram a produção de suas reservas domésticas, controlando cerca de 85% dos recursos mundiais de petróleo, segundo a Administração de Informação Energética, em Washington.

As descobertas também estão ajudando países, desde os Estados Unidos até a Romênia, a diminuir sua dependência das importações de energia, assim como geram receita fiscal e emprego.

Na Polônia, a Chevron e outras empresas de energia ocidentais têm explorado o gás de xisto, usando muitas das técnicas desenvolvidas nos EUA. As reservas potenciais poderão garantir à Polônia gás suficiente por mais de 50 anos.

Mas o renascimento do combustível fóssil não foi bom para todas as companhias energéticas. No setor alternativo, as fazendas de vento e de painéis solares hoje acham a concorrência muito mais dura.

Analistas dizem que a eletricidade originária das fazendas de vento nas costas do Reino Unido e da Alemanha, por exemplo, poderá custar seis vezes mais que a das usinas que queimam carvão ou gás natural.

Em uma virada bizarra, as empresas tradicionais de petróleo e gás poderão vir em socorro dos muitos projetos de energia verde. Nos últimos 18 meses, a espanhola Repsol e sua rival norueguesa Statoil anunciaram investimentos em projetos eólicos e em alto-mar em todo o norte da Europa.

Mas, com a previsão diminuindo para as fontes de energia de baixo carbono, há preocupações de que os esforços para conter as emissões de gases do efeito estufa falhem, enquanto os países buscam novas fontes de combustíveis fósseis.

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