Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Inteligência/Robert Kuttner

Uma eleição sobre a economia

Apesar das fraquezas de seu adversário, o presidente Obama vai achar difícil a reeleição. Um angariador de fundos em Atlanta este ano

Boston

Você poderia pensar que Mitt Romney, o virtual candidato republicano a presidente dos EUA, seria um adversário ideal do ponto de vista de Barack Obama.

O Partido Republicano está dividido entre os fundamentalistas do Tea Party e moderados como Romney. Como governador de Massachusetts, ele patrocinou um sistema de saúde controlado pelo governo parecido com o plano de Obama, que os conservadores odeiam. Ele até defendeu o direito ao aborto, posição que hoje renega.

Romney tem dificuldades para explicar seus diversos recuos em posições políticas e tem um dom para fazer comentários que lembram aos eleitores como ele é rico e distante. Em um importante discurso em Detroit em fevereiro, Romney tentou demonstrar solidariedade com a "Cidade dos Automóveis", em crise, dizendo à multidão que ele compra carros americanos. Sua mulher, Ann, "dirige alguns Cadillacs", disse.

Mas as fraquezas de Romney como candidato não ajudarão o presidente Obama a conquistar um segundo mandato de quatro anos se a economia vacilar. Os presidentes em exercício simplesmente não conseguem ser reeleitos quando o índice de desemprego está acima de 8% e em ascensão. Nos últimos meses, o desemprego nos EUA vem declinando em um ritmo terrivelmente lento. A economia gerou mais de 200 mil novos empregos em janeiro e em fevereiro, depois recuou para apenas 120 mil novos empregos em março. A taxa de desemprego caiu para 8,2%, contra um pico de 10% em outubro de 2009, mas a desaceleração na geração de empregos não é um bom presságio para Obama.

A renda das famílias ajustada pela inflação diminuiu desde 2007 e ainda precisa se recuperar. Embora os EUA estejam tecnicamente fora da recessão, a maioria dos eleitores não tem um bom sentimento sobre a economia. Na última pesquisa New York Times/CBS, em meados de abril, apenas 33% dos participantes disseram achar que a economia está melhorando e 27% deram crédito a Obama pela suposta recuperação.

Até um modesto revés poderia perturbar a frágil recuperação. Por exemplo, um ponto positivo foi a expansão das exportações americanas. Infelizmente, o melhor cliente de exportações dos EUA, a Europa, está saltando de uma crise da dívida para outra. O preço do Banco Central Europeu para aliviar a dívida é mais austeridade -política que reduzirá o crescimento europeu.

A volatilidade dos preços da gasolina diminuiu, mas um conflito entre o Irã e o Ocidente poderia causar um aumento. Um presidente não tem controle dos preços na bomba -que estão mais altos hoje para os americanos, a cerca de US$ 1 por litro-, mas é invariavelmente culpado quando eles sobem. Os republicanos estão prontos para usar o alto preço da gasolina como arma política.

Obama tem sido um presidente eficaz em política externa, mas isto não o ajudará muito porque esta eleição estará ligada principalmente à economia. Os presidentes americanos são eleitos Estado por Estado e, em 2008, Obama surpreendeu muitos ao conquistar vários Estados bastante conservadores, onde os democratas raramente vencem, como Indiana, Carolina do Norte e New Hampshire. Ele foi ajudado pela raiva dos eleitores contra o presidente George W. Bush por causa da quebra econômica.

Hoje, os efeitos prolongados dessa quebra, justamente ou não, pertencem a Obama. Os Estados industriais em que ele ganhou em 2008 serão mais difíceis, incluindo os cruciais Ohio e Pensilvânia. Uma característica de Obama que frustrou muitos democratas foi seu esforço para seguir em terreno comum com os republicanos muito depois que ficou claro que eles não estavam interessados em um compromisso.

Hoje, porém, Obama está em modo de campanha, criticando firmemente os republicanos por políticas que estão muito à direita da opinião pública, como a proposta de transformar o programa de saúde pública Medicare, que fornece assistência aos americanos com mais de 65 anos, em um sistema de cupons.

Diferentemente de alguns presidentes americanos -Franklin D. Roosevelt e Lyndon B. Johnson- que usaram a Presidência com um bom efeito político, o incrivelmente calmo presidente Obama é um político muito mais energizante em seu papel como candidato. Ele está começando a gerar o tipo de excitação na campanha que cercou sua candidatura bem-sucedida em 2008. Resta ver se essa energia vai superar a lentidão da economia.

Outra incógnita poderá ser um candidato independente. Um grupo bem financiado chamado Americanos Elegem coletou mais de 2,5 milhões de assinaturas para conquistar um lugar nas cédulas em Estados importantes.

Durante toda a sua carreira, Barack Obama teve sorte com os adversários que enfrentou. Mas, apesar das diversas fraquezas de Romney, desta vez Obama poderá ser refém de tendências fora de seu controle e chegar a novembro como o azarão.

Robert Kuttner é coeditor do livro "The American Prospect" e membro do grupo de pensadores Demos. Escreveu "A Presidency in Peril". Envie comentários para intelligence@nytimes.com

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.