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Batida africana conquista fãs pelo mundo

Por JAMES C. McKINLEY Jr.

Poderíamos dizer que é uma exposição dupla. "Folila", um novo álbum de Amadou & Mariam, duo malinês formado por marido e mulher cegos, foi gravado duas vezes: uma em Nova York, com um elenco estelar de músicos independentes, e outra no Mali, com instrumentistas tradicionais.

Lançado em abril, "Folila" representa um esforço do duo para ampliar seu público nos Estados Unidos, onde seu misto de pop malinês e blues rock demora mais a ser aceito do que na Europa.

A lista dos músicos convidados inclui o guitarrista Nick Zinner, dos Yeah Yeah Yeahs, a cantora de eletropop Santigold, o rapper Theophilus London, Jake Shears, do Scissor Sisters, e os vocalistas Kyp Malone e Tunde Adebimpe, do TV on the Radio -todos americanos. E também o roqueiro francês Bertrand Cantat e a compositora britânica Ebony Bones.

"Eles são tão interessados em trabalhar com outras pessoas", disseu Nick Zinner. Sobre a gravação do CD, ele comentou: "Foi muito casual, muito solto. Era como estar sentado com amigos, batendo um papo, e alguém ter uma ideia".

A banda tuaregue Tinariwen, do Mali, e a banda folk irlandesa Chieftains lançaram discos no ano passado com a participação de roqueiros indie americanos.

Mas Amadou Bagayoko, 57, e Mariam Doumbia, 54, não são músicos ocidentais que exploram novos e estranhos mundos musicais. São africanos que conquistaram admiradores no circuito dos festivais de rock e estão fazendo gravações com esses músicos para ampliar seu público. Foi seu CD de 2005 "Dimanche à Bamako", com o roqueiro indie franco-espanhol Manu Chao, que lhes valeu um disco de ouro na Europa e as paradas pop francesas. Em 2009, eles foram aclamados pelo álbum "Welcome to Mali", feito com o roqueiro britânico Damon Albarn.

Bagayoko e Doumbia reuniram seus colaboradores em "Folila" através de jam sessions e alianças formadas em festivais de música. "Todas as pessoas que participam vieram trabalhar conosco por amor, sem dinheiro", disse Bagayoko antes de um show recente em Manhattan.

O novo álbum soa mais tradicional que seus dois CDs anteriores. O ritmo dos tambores djembê e doumdoum domina as canções, misturado ao de instrumentos de corda malineses tradicionais. O álbum evoca as ruas de terra e fogueiras de carvão de Bamaco.

Os riffs da guitarra de Bagayoko impelem a música e as linhas vocais de Doumbia, anasaladas mas retumbantes, se entrelaçam com o ritmo em melodias hipnóticas.

As canções falam de amor e traição, calúnia, pobreza e política. Em "Africa Mon Afrique", composta antes do recente golpe militar no Mali, eles pede aos africanos que abracem a democracia.

Jake Shears contou que ficou fascinado com o duo quando ouviu a música deles a partir do seu quarto de hotel num festival de música na ilha de Wight, em 2006. Ele recorda: "Perguntei 'quem são essas pessoas?'. O que eles fazem remete ao rock clássico".

Nick Zinner contou que tocou com o duo pela primeira vez em um dos shows Africa Express de Damon Albarn na Espanha, em 2010. "Na manhã do show, estávamos pensando no que fazer. Me colocaram numa sala com Amadou & Mariam e mais vários músicos franceses e africanos fenomenais", disse Zinner. "Seis horas mais tarde estávamos tocando para 60 mil pessoas. Foi realmente uma das experiências mais maravilhosas de minha vida musical."

Bagayoko comentou que gosta tanto da interação entre as frases de sua guitarra e o estilo do rock de Zinner que quis que as duas guitarras estivessem no centro de "Folila".

Moreau usou jam sessions em Nova York e Londres para gerar comentários sobre o casal. Theophilus London, que faz um rap na canção "Nebe Miri", conheceu o duo numa sessão em Londres em 2009. A dupla o convidou para tocar na sessão depois de ele ter remixado a canção "Sabali" e a convertido em sucesso underground em Nova York e em Londres. "Fiquei morrendo de medo", disse ele. "Nunca ensaiamos."

Essa abordagem descontraída também caracteriza o trabalho do duo no estúdio de gravação. "É quase como se o estúdio e a gravação fossem irrelevantes", comentou Santigold. "Eles dizem 'é isto o que fazemos e quem somos, e a gente faz isto desde sempre'. O fato de estar virando uma gravação é quase irrelevante."

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