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ARTE & ESTILO

O rebelde teen do rap quer amadurecer

POR JON CARAMANICA

LOS ANGELES - Thebe Kgositsile ficou conhecido como Earl Sweatshirt, o rapper mais intenso e talentoso do Odd Future. Nos últimos dois anos, o coletivo ajudou a virar do avesso os padrões comerciais do hip-hop e a refazer ideias sobre o significado do underground do rap, graças a seu conteúdo barulhento e a seu líder, Tyler.

Boa parte da repercussão gerada pelo Odd Future diz respeito a Earl Sweatshirt, cujo vídeo de "Earl", postado on-line em maio de 2010, foi uma fantasia teen rebelde sobre consumo de drogas e outros comportamentos rebeldes. Jovem provocador, ele era um rapper jeitoso: mal-educado e fascinante.

Mas, quando o Odd Future começou a se apresentar, Earl Sweatshirt tinha sumido. Sua mãe o tinha mandado para um retiro terapêutico em Samoa.

Ele retornou a Los Angeles em fevereiro com sua popularidade ainda mais em alta. Em sua ausência, o Odd Future tinha começado a fazer sucesso em turnês.

Quanto a Earl, ele está se reencontrando. "Há tanta coisa em jogo", disse. "Para mim, para minha mãe, para Tyler, para todo o mundo que é importante para mim."

Ao completar 18 anos, Earl ficou mais suave e reflexivo. As semanas desde seu retorno exigiram um trabalho constante de sintonização: passar tempo com sua mãe, voltar a se acostumar com o ritmo do Odd Future, refazer sua amizade com Tyler, que se ressentiu de sua ausência, entre outros. Em muitos casos essas metas eram incompatíveis.

O relacionamento entre a mãe de Earl -Cheryl Harris, professora de direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles- e o Odd Future, que manteve vivo o nome de Earl Sweatshirt enquanto ele esteve longe, era mínimo. Ao explicar o que a levou a mandar seu filho para longe, Harris disse: "Era muito evidente que ele estava tendo dificuldades". Isso incluía fumar maconha em excesso, desentender-se com o instrutor de Hwa Rang Do, com quem ele treinou artes marciais durante anos, e ser flagrado colando na escola. A música foi outro elemento que Harris levou em conta em sua decisão.

"Eu sou o tudo de minha mãe. Não havia nada mais que distraísse a atenção dela", desviando-a de seus problemas, disse Earl. Cheryl Harris e o pai de seu filho, o poeta e ativista sul-africano Keorapetse Kgositsile, separaram-se há dez anos.

Com o vídeo "Earl", a popularidade do Odd Future cresceu. Ficou mais difícil ignorar a ausência de Earl. Os fãs do Odd Future passaram a enxergar Harris como inimiga e uma carta contendo ameaças foi deixada sob sua porta.

Enquanto isso, na Academia Coral Reef, em Samoa, Earl falava com terapeutas. Ele nadou com baleias, ganhou licença para praticar mergulho e estudou piano. Leu uma biografia de Malcolm X e escreveu rimas. A maior parte da letra de "Oldie", sua única contribuição a "The OF Tape Vol. 2" (Odd Future), lançado em março, foi escrita em Samoa.

Earl chegou ao retiro cheio de ressentimento. Então foi mandado para trabalhar num centro para sobreviventes de abusos sexuais, incluindo crianças.

"Foi um momento que mudou tudo", contou. Como rapper, ele era elogiado pelas imagens extremas que evocava. Quando foi lançado, em março de 2010, o álbum "Earl" foi divulgado no Tumblr, do Odd Future, com a promessa: "Letras sobre estupro, cocaína e sofás vão estourar seus ouvidos".

Ele disse que, quando começou a trabalhar no centro, "já tinha concluído que não ia mais falar sobre" esse tipo de tema. Mas ficar cara a cara com crianças traumatizadas foi avassalador. "Se você tem uma gota sequer de humanidade, não consegue fugir."

Finalmente, disse Earl Sweatshirt, "comecei a assumir responsabilidades". Quando retornou à Califórnia, o Odd Future o recebeu com "um cheque de bem-vindo de volta", disse Christian Clancy, um dos empresários do grupo. "Ele amadureceu", opinou Syd the Kyd, produtor do Odd Future. "Mas não mudou."

Com empresários separados, e após mais de 18 meses de vivências completamente diferentes, Earl não voltou para o coletivo. Fechou contrato para um disco solo; durante a assinatura ele estava visivelmente sob o efeito de maconha.

Earl vai ter seu selo próprio na Columbia, ao lado do Odd Future. Ele garantiu que seu contrato solo lhe permitisse colocar o logotipo do Odd Future em seus álbuns. Earl fez sua estreia ao vivo no concerto de lançamento do álbum do Odd Future em Nova York, em março.

Ainda há sessões de terapia com sua mãe. "Não tenho tanta consideração quanto deveria", disse.

Enquanto isso, ele anda de skate e faz música com todo o mundo do grupo. Sobre "Earl", a canção que o fez famoso, comentou: "Não há hora em que eu queira ouvir isso".

Earl contou que, quando chegou a Samoa, foi levado a uma cachoeira. "Se você não pulasse do alto da cachoeira", se sentiria terrível, contou.

O fato lhe deu nova perspectiva, um desejo de ser mais ousado e de confiar mais em si mesmo. "Simplesmente trato todo o mundo assim. Se eu não fizer isto agora, se eu não encarar este risco, nunca mais vou recuperar este dia."

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