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Arte & Estilo

Ator de 'Borat' vira ditador em comédia

POR DENNIS LIM

No filme "O Ditador", Sacha Baron Cohen faz o almirante general Aladeen, o barbudo e tirânico líder da fictícia república de Wadiya. O filme inaugura uma fase nova na carreira de Baron Cohen, entre outras razões por apresentar sua primeira persona nova em mais de dez anos. É o primeiro filme dele a ser inteiramente roteirizado e representado por atores profissionais.

Mas, ao relatar as façanhas de um homem numa terra que lhe é estranha, "O Ditador" segue o mesmo modelo que Baron Cohen adotou desde que ele próprio atravessou o Atlântico, em 2003, vindo da Inglaterra: uma viagem tocquevilliana que supostamente se propõe a lançar luz sobre a psique da América.

O grande tema de Baron Cohen é o choque cultural, algo que ele vê como fonte interminável de humor e de horror. Com Ali G, o britânico que fazia pose de gângster, o simplório cazaque Borat ou o fashionista austríaco Bruno -todos personagens desenvolvidos por Baron Cohen- ele evidenciou seu jeito para destilar estereótipos exagerados, gatilhos políticos e temas culturais incendiários em uma única figura ridícula.

Em "O Ditador", que estreia nos Estados Unidos em 16 de maio e será lançado em todo o mundo ao longo de junho, essa figura é Aladeen, um tirano com um programa nuclear em início de desenvolvimento e um pendor por prostitutas de alta categoria. Para caracterizar Wadiya, Baron Cohen chegou a criar um site na internet que situa o país no Chifre da África, ao lado da Somália, oferece dicas de investimento ("Wadiya possui mais de 400 mil milhas quadradas de deserto intocado, pronto para ser investido") e tem um feed de notícias de última hora ("Aladeen manda Heidi Klum encerrar seu casamento com Seal").

Numa sequência absurda de acontecimentos, Aladeen acaba numa cooperativa de orgânicos no Brooklyn, onde uma ativista de macacão, Zoe (Anna Faris) o toma por um dissidente de Wadiya. Nasce um amor.

Como sempre, Baron Cohen vem insistindo em continuar a caráter fora da telona. Aladeen aproveitou ao máximo seu momento no tapete vermelho do Oscar, derrubando sobre Ryan Seacrest o pó contido numa urna ("Kim Jong-il está espalhado sobre você"). Recentemente, ele respondeu a perguntas do jornal "New York Times" por e-mail.

Indagado sobre a chegada de "O Ditador" na esteira de um ano ruim para tiranos, levando em conta a Primavera Árabe e a morte de Kim Jong-il, ele respondeu: "Alguns diriam que a era da mídia impressa está chegando ao fim, mas você não me vê jogando isso na sua cara, não é mesmo, 'New York Times'? E que história é essa de só deixar a gente ler dez artigos por mês sem pagar? E o tirano aqui sou eu?!Mas, para responder a pergunta, não, não acho que a era da tirania esteja chegando ao fim. Estamos no olho da tempestade, só isso. A Primavera Árabe não passa de um modismo bobo, como os 'direitos humanos'. E eu não me preocupo com o que está acontecendo em Wadiya -o povo me ama profundamente. Mas, por via das dúvidas, tirei os meses de primavera do calendário e fiz fevereiro ter 128 dias."

O diretor do filme, Larry Charles, também dirigiu "Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América" (2006) e "Bruno" (2009). Ele disse que "O Ditador" foi um empreendimento mais tradicional. "Estávamos acostumados a andar por aí em duas vans sem identificação, sair rapidinho, filmar em uma só tomada, voltar para a van e ir embora correndo -e, mais tarde, ser processados."

Por trás da predileção de Baron Cohen por um humor grosseiro e linguagem chula existe sofisticação conceitual. "Há discussões filosóficas na criação do roteiro e na própria rodagem do filme", comentou Charles.

Mas é possível que os tempos de Baron Cohen como humorista insurrecto tenham ficado para trás. "Essa parte do processo de fazer cinema é emocionante -é como assaltar um banco", disse Charles. "Mas é também algo como aqueles filmes sobre assaltos a bancos em que há um último assalto. Precisamos resistir à vontade de fazer um último assalto, porque os últimos geralmente dão errado."

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