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Violência no país deixa mexicanos apáticos

Por RANDAL C. ARCHIBOLD e DAMIEN CAVE

CADEREYTA JIMÉNEZ, México - Casais passeavam de mãos dadas, crianças brincavam. Não muito longe, nessa mesma estrada de uma cidade no norte do México, 49 corpos sem cabeça e com as mãos e os pés decepados tinham sido encontrados e removidos.

Francisco Umberta, ciente desse último crime, que faz parte de uma série incrivelmente violenta ligada à guerra das drogas no México, enfrentou a situação saindo para namorar. A meia hora de distância de onde os corpos foram descobertos, Umse estava em uma fila para comprar ingressos para o cinema.

"É claro que é muito assustador", disse sobre o massacre, "mas o que podemos fazer?" Ele ouviu falar dos corpos pouco depois deles terem sido descobertos. Entretanto, a final do campeonato regional de futebol lhe chamou mais a atenção do que o crime.

"Não é que estejamos todos paralisados", disse Umberta, 31, um funcionário de escritório. "Precisamos continuar vivendo, apesar de tudo."

Com cadáveres aparecendo em esquinas e dentro de restaurantes, pendurados em pontes e enterrados em valas comuns, os mexicanos parecem ter-se tornado imunes. Revolta, medo, ansiedade, tristeza -é duro dominar essas emoções repetidamente, sobretudo com 50 mil pessoas mortas em assassinatos ligados às drogas nos últimos seis anos.

O México parece estar se tornando mais apático diante desses crimes. Muitos mexicanos estão perturbados com sua própria atitude e deprimidos. Especialistas em crime e psicólogos dizem que a apatia é apenas uma resposta aprendida em casos de trauma repetido, e impotência.

"Sabemos que nada está mudando", disse Imelda Santos, 17, que tinha saído para comer um hambúrguer com amigos. "Tentamos não nos preocupar muito, já que não estamos envolvidos."

"Para muitos mexicanos, o maior impulso é: 'Bem, isso é muito ruim, mas pelo menos nos livramos dos bandidos'", disse Jorge Castañeda, ex-candidato presidencial.

No caso dos 49, talvez alguns estivessem do lado errado da lei. As autoridades disseram que vários tinham tatuagens da Santa Muerte, entidade não oficial preferida pelos assassinos dos cartéis.

O secretário do Interior do México, Alejandro Poiré, disse que os Zetas, um bando de traficantes conhecido por sua crueldade, pareciam ser os responsáveis pelos crimes. Especialistas em segurança acreditavam que a matança era uma reação a mortes em massa pelo cartel de Sinaloa.

Os dois grupos são os mais poderosos concorrentes no crime mexicano. Eles também são adversários regionais e culturais. Sinaloa transporta drogas do oeste do México para o norte há gerações; os Zetas são mais novos, da costa oeste do país, mais urbana.

Eles estão lutando entre si, invadindo os respectivos territórios e deixando para trás corpos para intimidar o adversário.

Diante desses mistérios mórbidos, psicólogos dizem que não admiram a apatia das pessoas. "Uma estratégia que usamos para proteção, para a sobrevivência, é ignorar. Afinal, não há nada que possamos fazer", disse María Antonia Padilla Vargas, coordenadora de um grupo de pesquisa psicológica sem fins lucrativos.

Moradores de um bairro da cidade do México onde um tiroteio em maio matou seis pessoas disseram que pararam de falar sobre o crime. "É melhor deixar essas coisas caírem no esquecimento", disse Andres Castillo, 68.

Colaborou Karla Zabludovsky

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