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análise

Modelo econômico chinês gera dúvidas

Tensão sociopolítica acompanha redução do crescimento chinês

Por EDWARD WONG

CHONGQING, China - Após a implosão econômica de 2008 nas potências ocidentais, os líderes chineses começaram a se gabar da supremacia de sua nação. Pelo mundo todo, espalhou-se a tese das vantagens do chamado modelo chinês -uma vaga combinação de políticas autoritárias e capitalismo guiado pelo Estado.

Mas agora, após recentes turbulências políticas, e com um crescente número de vozes influentes exigindo a retomada de políticas econômicas mais livres, parece que aquele triunfalismo foi no mínimo prematuro e talvez seriamente equivocado. Os líderes chineses enfrentam diversas incertezas, como um escândalo político de proporções sísmicas que abalou a transição da liderança, que ocorre uma vez por década, ou a desaceleração de uma economia em que estatais profundamente encasteladas e seus clientes políticos tolhem as forças de mercado e a iniciativa privada.

"Muitos problemas econômicos que enfrentamos são, na verdade, problemas políticos disfarçados, como a natureza da economia e do sistema de propriedade no país e os grupos de interesses velados", disse Zhang Ming, cientista político da Universidade Renmin, em Pequim.

Recentemente, a China divulgou dados mostrando que a sua economia enfraquece. Economistas têm aconselhado o governo a afrouxar os controles sobre o sistema financeiro, a apoiar empréstimos a empresas privadas e a restringi-los para as estatais, a permitir flutuações nas taxas de juros e câmbio e a ampliar benefícios sociais.

Tais mudanças reduziriam o papel do Estado, atenuariam a corrupção e estimulariam a concorrência. Executá-las envolveria uma titânica disputa de poder. Executivos dos conglomerados chineses, generais, membros do Politburo, autoridades locais e "príncipes" filhos de comunistas veteranos têm poucos incentivos para reformular um sistema que enche os seus cofres.

Outro aspecto significativo do modelo chinês é o crescente aparato de segurança. Suas táticas agressivas para manter a estabilidade social são questionadas por causa, entre outros motivos, das mais de 30 autoimolações de tibetanos insatisfeitos e da crise diplomática entre China e EUA envolvendo o dissidente Chen Guangcheng.

Mas é o escândalo com Bo Xilai, até recentemente membro do Politburo do Partido Comunista, que mais serve de lição para quem até então louvava o sistema político chinês e sua aparência de unidade. Antes que o carismático Bo perdesse a chefia partidária em Chongqing, outros líderes já começavam a achá-lo indômito e intolerável.

No final de 2007, Bo iniciou um programa de repressão à criminalidade e retomou políticas sociais e cantorias maoístas, com vistas a angariar o apoio popular e a "nova esquerda", composta por socialistas irredutíveis, à sua candidatura ao Comitê Permanente do Politburo. As políticas de Bo seguiam o modelo chinês de crescimento, baseado em projetos realizados por empresas estatais, com grandes empréstimos de bancos públicos. Isso está sustentando a economia da China.

Repleto de projetos de infraestrutura, Chongqing, com 31 milhões de habitantes, teve um crescimento econômico de 16,4% no ano passado, o maior entre todos os municípios. Mas o governo municipal e as empresas públicas locais acumulam US$ 160 bilhões em dívidas, segundo estimativas de Victor Shih, estudioso da economia política chinesa. Muitos desses empréstimos podem nunca ser quitados.

Autoridades que pressionam por um modelo diferente na China, que dependa mais do consumo e estimule a iniciativa privada, insistem que reformas estruturais precisam ser retomadas. Alguns veem uma abertura para isso na próxima transição da liderança. Mas o maior obstáculo pode ser o fato de que tanto os atuais quanto os futuros líderes têm estreitas ligações com as empresas estatais.

A hesitação acerca do próximo passo é salientada pelo resfriamento econômico. O índice de crescimento caiu para 8,1% no primeiro trimestre, e o primeiro-ministro Wen Jiabao em março reduziu a previsão deste ano para 7,5%. O mercado imobiliário registra deflação. A demanda interna está se enfraquecendo, e as exportações derrapam. A China afastou a crise financeira global com um pacote de estímulo de US$ 580 bilhões e com um afrouxamento do crédito bancário. Seus líderes podem recair nessa abordagem de domínio governamental se a economia esfriar demais.

O que os contém é o temor de uma inflação desenfreada, a qual pode alimentar a inquietação social.

Colaboraram Jonathan Ansfield, Li Bibo e Edy Yin

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