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O retorno das pin-ups de batom vermelho

Elas rejeitam implantes e a magreza inatingível

Por RUTH LA FERLA

Ela é filha dos anos 90, a década do Starbucks, Nirvana e da magérrima Kate Moss. Mas Jolie Clifford não quer saber disso.

Fotógrafa de arte e universitária recém-diplomada, Clifford, 21, nunca foi fã da estética frágil e abatida que definia sua turma.

Um dia, vasculhando uma lata de lixo, ela encontrou uma "Playboy" dos anos 50. Havia fotos de Bettie Page mostrando os lábios cor de cereja e a franja de garotinha que fizeram dela a pin-up mais famosa de seus tempos.

"Sei que nos anos 50 as imagens dela eram vistas como material pornô, mas hoje são coisas que têm classe", disse Clifford.

Seguindo o exemplo de seu novo ídolo, ela própria cortou seu cabelo em franja e se maquiou com delineador forte. Adotou as calças capri de cintura alta, as saias rodadas e as blusinhas de frente única que assinalam sua participação numa subcultura composta principalmente por mulheres jovens que gostam de coquetéis de limão e música rockabilly e cujos corpos geralmente apresentam curvas fartas.

Essas mulheres curtem o senso de estilo e recebem um conforto emocional inesperado pelo fato de se reinventarem como encarnações contemporâneas de Bettie Page ou como vamps retrô modernas como Katy Perry ou Lana Del Rey.

Algumas peças indispensáveis do guarda-roupa das pin-ups ganharam aceitação surpreendente nos campi de universidades. "O estilo inspirado nas pin-ups é uma tendência em alta", comentou Zephyr Basine, editora de um blogs sobre moda escrito por universitárias (Collegefashion.net). Recentemente, o blog destacou blusas com lacinho amarrado na frente, biquínis de bolinha e calças de marinheiro. "Para mulheres que cresceram tendo como ideal de beleza modelos magérrimas e com bronzeado artificial, esse look é um sopro de ar fresco -até mesmo revolucionário."

Movidas pela nostalgia, essas jovens se inspiram numa tendência que apenas agora está ganhando força, sendo divulgado por dramas de época na TV, filmes, sites, exposições de fotos, campanhas publicitárias e ensaios de moda que retornam à era dos sedãs rabos de peixe e mulheres voluptuosas.

"O interesse pela fotografia erótica light dos anos 50 e 60 está em alta", comentou Brian Wallis, curador-chefe do Centro Internacional de Fotografia, em Nova York. Isso se evidencia "não apenas nos círculos teóricos, mas na cultura como um todo".

A rede varejista Bettie Page Clothing, com lojas que vão desde Miami, Flórida, até Santa Barbara, Califórnia, gerou US$ 15 milhões neste ano vendendo vestidinhos de coquetel, shorts e maiôs inspirados nos anos 50, principalmente a mulheres com menos de 35 anos, disse um de seus donos, Jan Glaser.

"É um nicho, mas um nicho de bom tamanho", falou Glaser. "Se a tendência virar mainstream demais, muitas pessoas vão deixar de gostar dela. Essas mulheres gostam de se ver como espíritos livres."

Em seus desfiles de primavera, Jason Wu, Anna Sui e Dolce & Gabbana exibiram maiôs duas-peças de cinturas altas, calças para sapateado e vestidos de corte tão modesto que pareciam pudicos. Edições recentes da "Vogue", "Allure" e "W" destacaram looks semelhantes: fotos de pin-ups atualizadas e hipercoloridas.

Não é de hoje que Jolie Clifford é obcecada pela moda das estrelas de cinema e rainhas do burlesco. Os carrões envenenados, a música, as pin-ups: tudo isso, para ela, "faz parte de uma cultura terapêutica".

Não que Clifford ignore seus encantos estéticos óbvios. "Uma saia de cintura alta deixa você um pouco mais magra", disse ela. "Uma blusa de frente única faz os seios parecer maiores, e andar de salto alto faz o todo ficar maravilhoso."

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