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Febre de decoração se tornou uma espécie de epidemia

Por STEVEN KURUTZ

Revistas de casa e decoração e blogs de design como Apartment Therapy apresentam fotos de residências projetadas até o último detalhe, com decorações que parecem ter pouca relação com o verdadeiro modo de vida dos moradores: chifres de veados enfeitam as paredes de pessoas que certamente não caçam, máquinas de escrever antigas sobre carteiras escolares pequenas demais para serem usadas, livros dispostos pela cor para refletir alguma noção de bom design.

Antes limitado aos ricos, o fenômeno se espalha pelas casas de todo o mundo.

Como notou Kurt Andersen em uma edição recente da revista "Vanity Fair", milhões de americanos hoje são "estilistas amadores, atentos, como nunca, aos detalhes e significados do design e da decoração de suas casas, roupas, equipamentos etc.".

Elaine Miller, que escreve o blog de design Decorno, acredita que isso é uma consequência de se viver através das mídias sociais. "As pessoas estão insanamente preocupadas com sua aparência", disse. "Elas agem como se estivessem sempre sendo observadas. Até suas casas são uma apresentação."

Ela citou blogueiros e usuários do Pinterest, um site de compartilhamento de fotos, que ficaram obcecados por receber visitas.

"É uma volta aos anos 50 e 60, quando as mulheres davam grandes festas", disse.

Evocando um glamour mítico de Hollywood, o "carrinho bar" é o exemplo da casa com decoração preocupada com a aparência. Ele representa que a moradora leva uma vida rica como a de uma socialite e está sempre recebendo visitas, mesmo que na realidade o carrinho só acumule poeira. Mas com tantas pessoas desejando ser anfitriãs amadoras (e publicando as evidências em blogs de design), é inevitável que ideias de decoração antes engraçadas se tornem clichês.

Clássicos como cadeiras Barcelona e abajures Arco hoje são tão comuns que é impossível possuir um deles sem se sentir uma "design victim" (vítima do design).

Pelo menos um popular membro do mundo de microblogs e redes sociais construiu sua identidade em torno de ridicularizar sua presença nas casas mostradas nos blogs. O site, que tem um nome impublicável, denuncia uma série de clichês de decoração conhecidos, desde a "womb chair" (cadeira útero) de Saarinen até "um terrário que contém uma pequena amostra de suculentas empoleirado em uma pilha de livros".

Será que as gerações anteriores eram tão conscientes de si próprias na decoração? "A diferença é que elas não tentavam ser incríveis", disse Miller. Antes você via o interior das casas de amigos, vizinhos e parentes, e era mais ou menos o mesmo. Hoje existem na rede inúmeras imagens de interiores perfeitos, para provocar inveja e desejo.

Andersen comparou a inundação de design online à pornografia: "As pessoas veem as imagens e dizem: 'Quero experimentar! '".

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