Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Ensaio - Ben Brantley

Quer aplaudir um show da Broadway? Por favor, continue sentado

Eu gostaria de defender, de modo oficial e urgente, o retorno da ovação sentada. Afinal, nós atingimos o ponto em que uma ovação em pé (OP) não significa nada. Praticamente todos os espetáculos da Broadway hoje em dia terminam com as pessoas erguendo-se de um salto e batendo as nadadeiras como focas cativas cujo tratador chegou com um balde de peixes.

Isso é verdade mesmo em shows malfadados, cujos elencos recebem os aplausos com o sorriso pálido e sem esperança de pacientes que acabam de ouvir um diagnóstico terminal.

Os motivos da ubiquidade da OP foram amplamente analisados por gurus culturais. Uma teoria diz que é porque os frequentadores habituais de teatro tornaram-se uma relativa raridade. Muitas pessoas que vão aos grandes shows da Broadway são turistas.

Para esses membros da plateia, levantar-se para aplaudir tornou-se parte da experiência oficial da Broadway.

Também suspeito que, para algumas pessoas, levantar-se imediatamente ao final do espetáculo é simplesmente um alívio físico depois de uma hora ou mais de imobilidade. Além disso, quanto mais depressa você se levantar maiores suas chances de superar a multidão na saída. E não vamos descontar o efeito dominó de uma OP: quando a pessoa na sua frente se levanta, você também precisa ficar em pé se quiser ver o que acontece no palco.

Em Londres, onde o teatro ainda é uma parte importante e natural da conversa cultural geral, a OP é menos epidêmica. É verdade que senti sua presença suarenta em alguns dos maiores musicais do West End (muitas vezes importados da Broadway, por isso talvez eles já venham com o vírus). Mas não consigo me lembrar da última vez em que testemunhei uma OP no Teatro Nacional, onde o alto nível de qualidade é constante e recompensador.

É verdade que alguns espetáculos merecem uma OP, o que não considero necessariamente um elogio.

"Newsies the Musical", em que os personagens ficam dançando, escorregando e saltando por toda parte, parece tão pateticamente ávido por uma ovação que negá-la seria como proibir que um cachorrinho mastigue seu brinquedo predileto.

Depois existem -ou pelo menos existiam, segundo os antigos- as OP significativas. Estas não eram imediatas, ou reflexos espontâneos.

Diz a lenda que na estreia de "A Morte de um Caixeiro-Viajante", de Arthur Miller, a plateia ficou tão comovida pelo que havia presenciado que continuou sentada em um silêncio chocado, recompondo-se e enxugando as lágrimas, antes que o aplauso explodisse.

Eu acho que as pessoas que veem a montagem atual dessa peça por Mike Nichols podem se sentir comovidas de modo semelhante pela tragédia de Willy Loman, o personagem-título. Mas na apresentação a que assisti elas se levantaram em menos de um milésimo de segundo.

Não estou pedindo a completa abolição da OP. Seria uma reivindicação tristemente quixotesca. Estou apenas pedindo que pensem antes de se levantar, se é que precisam fazê-lo.

E lembrem-se: em uma era em que a OP é tão comum em um teatro da Broadway quanto a enorme fila para o banheiro feminino no intervalo, continuar sentado tornou-se um tributo excepcional.

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.