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Cresce ação antidroga americana

Por Damien Cave, Charlie Savage e Thom Shanker

WASHINGTON - Após a morte de quatro moradores de uma aldeia hondurenha durante a ação de agentes do governo e americanos contra narcotraficantes em Honduras, no mês passado, a reação local gerou preocupações de que os esforços antidrogas dos EUA na América Central estejam indo longe demais. Mas as autoridades americanas pensam diferente.

Ao longo de 2011, agentes hondurenhos se sentiram impotentes ao ver mais de cem pequenos aviões cruzarem as telas dos seus radares, voando da América do Sul para pistas de pouso em lugares isolados de Honduras. Mas, após a adoção de uma nova estratégia que enfatiza a cooperação entre departamentos e agências dos EUA, dois aviões foram interceptados em menos de uma semana, em maio, o que explica por que as autoridades em Washington se dizem determinadas a manter essa abordagem.

"Meu palpite é que os traficantes de narcóticos apertaram o botão de pausa", disse William Brownfield, secretário-assistente de Estado para narcóticos e imposição da lei.

"Pela primeira vez em uma década, os carregamentos aéreos estão sendo interceptados imediatamente ao pousarem."

Com a atenção dos EUA se desviando do Iraque e Afeganistão -e com os dólares do orçamento igualmente indo em outras direções -, os EUA estão ampliando e unificando seus esforços antidrogas na América Central, onde a violência disparou à medida que a repressão na Colômbia, México e parte do Caribe empurrou o tráfico para países menores, com forças de segurança mais fracas.

Os EUA pressionam os governos centro-americanos a cooperarem na partilha de informações e na autorização para que forças de segurança de uma nação operem em território alheio, a abordagem que foi vista na operação polêmica mencionada acima, já que guatemaltecos pilotavam helicópteros americanos cheios de soldados hondurenhos.

O governo de Honduras, eleito num controverso pleito meses depois de um golpe de Estado em 2009, apoia fortemente a assistência americana, mas céticos argumentam que o entusiasmo se deve em parte ao fato de a parceria reforçar o seu frágil domínio sobre o poder.

Há descontentamento na América Latina com os esforços americanos, que alguns líderes e especialistas independentes dizem ser focado demais em apreensões dramáticas de carregamentos com destino à América do Norte, e não nos casos locais de homicídio e corrupção ligados ao narcotráfico.

"A violência cresceu muito, crimes conectados ao tráfico continuam aumentando -essa é a grande queixa da América Central", disse o presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina. Ele acrescentou que os cartéis estão mais bem organizados do que há 20 anos, e que "se não virmos algo realmente diferente do que temos feito, essa guerra está no caminho da derrota."

Na costa dos Mosquitos de Honduras, onde as duas operações ocorreram, os moradores têm reivindicações simples.

"Se vocês vêm para a costa dos Mosquitos, venham para investir", disse Terry Martínez, diretor de programas de desenvolvimento para a área. "Ajudem-nos a colocar nossos produtos legítimos no mercado. Isso ajudará a proteger a área."

As autoridades americanas dizem ter ciência de que só reprimir não basta. O número de funcionários americanos em programas voltados ao fortalecimento dos sistemas judiciais e criminais da América Central quadruplicou nos últimos cinco anos, chegando a 80. E a Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA ajudou desde 2009 a inaugurar mais de 70 centros de qualificação profissional para jovens, dizem as autoridades.

"É preciso haver um lado positivo: fornecer subsistências econômicas alternativas, clínicas, estradas -o tipo de coisa que realmente dá às comunidades pobres um poder sobre o seu futuro, para que elas não participem do tráfico de narcóticos", disse Brownfield, ex-embaixador na Colômbia.

Mas a maior parte das verbas para a Iniciativa de Segurança Regional Centro-Americana se destinou a trabalhos de segurança e repressão, segundo um recente relatório do Congresso. Funcionários americanos dizem que os esforços de repressão incluem programas para aumentar o profissionalismo das unidades policiais locais. E, cada vez mais, os governos centro-americanos se ajudam mutuamente a treinar suas forças.

As agências dos EUA também estão combinando seus esforços de novas maneiras. Autoridades dizem que a ação de 11 de maio perto da localidade de Ahuas -e outra dias antes em Honduras, na qual também houve um tiroteio, mas aparentemente ninguém morreu -ilustrava esse esforço conjunto. O incidente de 11 de maio continua sob investigação.

Mas questões mais amplas permanecem. Mesmo que a rota aérea para Honduras seja interrompida, enquanto os EUA -e a África e a Europa- continuarem sendo um mercado lucrativo para a cocaína, os traficantes vão continuar buscando formas de levar seu produto.

Funcionários dos EUA dizem que já estão reforçando seus esforços no Caribe, antecipando-se a outra mudança na direção das drogas.

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