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Americanos caçam arte em Havana

Por VICTORIA BURNETT

HAVANA - Desde que o presidente Obama começou a suspender muitas das restrições da era Bush às viagens a Cuba, em 2009, o tráfego flui novamente sobre a ponte que liga os mundos da arte americano e cubano.

As autoridades cubanas dizem que mais de 1.300 americanos se inscreveram para participar da 11ª Bienal de Havana, quase o recorde alcançado em 2000, depois que o governo Clinton afrouxou anos de restrições às viagens.

Sandra Contreras, diretora da galeria Villa Manuela, aprovou a mudança. "Apesar de termos espaço na Europa e na América Latina, os colecionadores americanos ainda são os nossos principais compradores", disse.

Para Cuba, a bienal é uma oportunidade de experimentar a cultura internacional e exibir a evolução artística do país. O evento encheu Havana de esculturas, pinturas e arte de rua de 180 artistas de 45 países.

"Você aprende muito", disse María Teresa Cañarte, pediatra. "Muita gente aqui não pode viajar e ver a arte de outros lugares. A bienal abre os horizontes."

Existe um punhado de artistas americanos, entre os quais Andres Serrano, que fez sua exposição em uma galeria de fotografia na Velha Havana, e Craig Shillitto, cujo Projeto Paladar levou dez chefs a Havana para cozinhar com dez cubanos em um restaurante improvisado, feito de contêineres de navio.

No Malecón, o quebra-mar que se estende no lado norte de Havana, um conjunto de obras de artistas cubanos explora o tema da migração e da fuga. Um assunto comovente em um país onde é preciso pedir permissão para viajar e onde muitos morrem tentando fazê-lo em balsas e barcos improvisados.

Em "Voando para Longe", de Arlés del Río, a silhueta de um avião recortada em um alambrado sugere que foi atravessado por um jato.

Os transeuntes paravam diante da escultura "Ninguém Escuta", de Alexandre Arrechea, uma árvore de orelhas de alumínio que ficam cada vez menores ao se aproximar do topo.

Os artistas ocupam um lugar privilegiado em Cuba, onde podem não apenas forçar os limites da crítica política, mas também guardar a maior parte do dinheiro de suas vendas.

Frank Mujica, que faz desenhos a lápis de paisagens cubanas, disse que quatro grupos por dia -na maioria americanos- visitaram o ateliê que ele divide com outros três jovens artistas.

Mas essa lufada de interesse não começou por causa da bienal: durante o inverno, americanos percorreram os ateliês de artistas e o Instituto de Arte Elevada, a principal escola de artes de Cuba, comprando obras diretamente dos estudantes.

"Existe muito interesse em adquirir obras daqui", disse Luis Miret Pérez, diretor da Galería Habana, uma das mais respeitadas da cidade. Miret afirma que o hiato de viagens com os Estados Unidos obrigou os artistas cubanos a se voltarem para a Europa, onde desenvolveram um novo mercado e conexões com curadores e oficinas que constroem suas instalações.

Para Nancy Portnoy, membro do conselho do New Museum em Nova York, os artistas cubanos da última década estão "mais expostos ao mundo exterior".

Para Arrechea, que não foi a sua primeira exposição individual em Nova York, em 2005, porque não conseguiu visto dos Estados Unidos, é crucial manter aberta a ligação com os EUA.

"Nossos jovens artistas esperam há anos que a porta se abra", disse. "Se ela fechar novamente, será um desastre."

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