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Tendências Mundiais

Físicos dos EUA têm sonhos adiados

POR DENNIS OVERBYE

Quando três astrônomos americanos ganharam o Nobel de Física do ano passado por descobrirem que a expansão do universo estava se acelerando apesar da gravidade cósmica, o prêmio reafirmou a tese da energia escura, a principal suspeita desse comportamento, como fonte de grandes mistérios e surpresas na astronomia contemporânea.

E ele também reforçou os argumentos de astrônomos dos EUA para que a Nasa faça uma missão que mensure a energia escura -de modo a determinar, por exemplo, se o cosmo vai se expandir para sempre, ou, talvez, se há algo de errado com a nossa compreensão da gravidade.

Em 2019, uma sonda espacial chamada Euclid vai iniciar essa missão de estudo da energia escura. Mas ela está sendo lançada pela Agência Espacial Europeia, não pela Nasa. Os EUA participam como parceiros secundários, contribuindo com US$ 20 milhões e alguns equipamentos.

Para alguns cientistas, trata-se de uma solução engenhosa, que permite o acesso aos dados pelos astrônomos americanos. São informações que eles não poderiam obter até que a Nasa inicie sua própria missão em 2024.

Mas, para outros, é um grande revés. Significa que, pelo menos durante a próxima década, os americanos serão meros coadjuvantes no acompanhamento da sua própria descoberta.

"Embora seja ótimo apoiar outras missões", disse Adam Riess, um dos ganhadores do Nobel de 2011, "é frustrante ver os EUA perderem ou terceirizarem seu protagonismo em uma das áreas mais pulsantes de pesquisa".

Para Riess e seus colegas, esses fatos exemplificam uma preocupante tendência na qual cientistas americanos, confrontados com deficit orçamentários e impasses políticos, são obrigados a abandonar ou adiar projetos promissores, enquanto equipes na Europa caçam o tão perseguido bóson de Higgs, e cientistas da China planejam um pouso na Lua em 2025.

Saul Perlmutter, outro ganhador do Nobel de 2011, disse que "o perigo, é claro, é vermos a ciência, os cientistas e os bons alunos se mudarem para outros países e continentes, onde projetos estão sendo iniciados e concluídos".

Com eles, dizem os cientistas, podem sumir também a excitação cultural e a fagulha inovadora que fortificam a economia. A internet, por exemplo, foi inventada na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) para ajudar os físicos de partículas a se comunicarem.

O Cern possui o mais poderoso acelerador de partículas do mundo, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês).

Já o Fermilab, principal laboratório americano de física de alta energia, precisou fechar no ano passado o seu acelerador, o Tevatron. Em março, o Departamento de Energia anunciou que suspenderia as verbas para uma experiência subterrânea de US$ 1,3 bilhão destinada a estudar uma estranha partícula chamada neutrino, que poderia explicar por que o universo é formado de matéria, e não de antimatéria.

Também foram cancelados os repasses para estudos relativos à próxima grande máquina da física mundial, o Colisor Internacional Linear.

Instalações parecidas em outros países se tornaram centros de pesquisa sobre a energia escura e são utilizadas em experiências com neutrinos e outras atividades delicadas que exigem blindagem contra raios cósmicos.

Há dois anos, a Academia Nacional de Ciências dos EUA deu aval a uma bilionária missão destinada a estudar a energia escura, apontando-a como a maior prioridade espacial na próxima década. A missão Wfirst (Telescópio Infravermelho de Amplo Campo, na sigla em inglês) buscaria exoplanetas e mediria os efeitos da energia escura. Mas, como o Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, precisou de US$ 1,6 bilhão em verbas adicionais, o Wfirst foi adiado.

Há cientistas que dizem que a pesquisa nos EUA vai bem diante das restrições orçamentárias. O telescópio Webb, por exemplo, está no prazo para ser lançado em 2018, a um custo de US$ 8 bilhões.

Em abril, o Congresso ampliou as verbas para a experiência com neutrinos, embora não o suficiente para colocar o projeto nos trilhos, segundo Katie Yurkewicz, porta-voz do Fermilab.

Debra Elmegreen, professora de astronomia no Vassar College, a 135 km de Nova York,passa muito tempo em Washington como presidente da Sociedade Astronômica Americana.

"O Congresso parece favorável à ciência", disse ela. "Eles reconhecem a necessidade de que a ciência e a tecnologia continuem, por isso não desanimo."

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