Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Arte & Estilo

Escultura suscita a ira dos britânicos

POR AMY CHOZICK

LONDRES - O prefeito de Londres, Boris Johnson, disse que a ArcelorMittal Orbit, uma espiral gigantesca de aço vermelho que se ergue 35 andares acima do Parque Olímpico da cidade, teria "superado as aspirações de Gustave Eiffel" e "surpreendido" os antigos romanos.

Muitos londrinos não a veem dessa maneira. Eles chamaram a "Órbita", desenhada pelo escultor indiano Anish Kapoor e pelo arquiteto de Sri Lanka Cecil Balmond, de "Torre Eye-full" ["olho cheio", um trocadilho com o nome Eiffel] e de "confusão" e a compararam com "uma massa de tripas retorcidas".

Imaginada como um símbolo de Londres pairando sobre o local dos Jogos Olímpicos, a "Órbita" foi projetada para rivalizar com o aquário London Eye e o Big Ben. Mas, por enquanto, é um dos principais alvos dos resmungos olímpicos britânicos.

"O mais duradouro legado do circo de milhões de libras que deverá chegar à cidade será um grande coágulo vermelho na paisagem", escreveu a colunista Catherine Cain sobre a torre no "The Watford Observer".

Vinte metros mais alta do que a Estátua da Liberdade (que tem 93 metros), a "Órbita" atraiu críticas não apenas por seu desenho vanguardista, mas por ser vista como um símbolo -apesar de seu financiamento ter sido feito principalmente por dinheiro privado- dos bilhões que o governo gasta nos Jogos Olímpicos enquanto os britânicos enfrentam medidas de austeridade.

"Temos uma visão engraçada da arte pública na Grã-Bretanha -ela é considerada ligeiramente estranha e elitista", disse John Simpson, arquiteto da Ushida Findlay, empresa de Londres que ajudou a transformar a escultura em um edifício funcional. A "Órbita" foi elogiada pelos críticos de arte e de arquitetura.

A torre, que será inaugurada juntamente com a Olimpíada, em 27 de julho, e cobrará um ingresso de US$ 23, além dos US$ 15 pagos para entrar no parque, aumenta a percepção de exagero e elitismo. Kapoor disse que a taxa de ingresso à "Órbita" é cara e que, depois dos Jogos, gostaria que o preço fosse comparável a sua visão de "um monumento democrático, aberto a todos".

David Cameron, o primeiro-ministro do Reino Unido, disse que os Jogos Olímpicos e a "Órbita" vão ajudar a desenvolver o bairro decadente de Stratford. "Acho que está na hora de afastar qualquer ideia de que a Olimpíada deixará para trás elefantes brancos", disse Cameron.

Em uma pesquisa realizada em maio, 51% dos britânicos consultados disseram discordar das declarações de Cameron, de que os Jogos Olímpicos valerão o custo para os contribuintes. Autoridades disseram que o valor do evento aumentou para US$ 17,2 bilhões, principalmente devido a gastos com segurança.

O projeto da "Órbita" começou em 2009, depois que o prefeito Johnson encontrou Lakshmi N. Mittal, o indiano que é executivo-chefe da enorme siderúrgica ArcelorMittal e um dos homens mais ricos do mundo, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O prefeito apresentou a Mittal a ideia de construir algo para aumentar a atração artística do Parque Olímpico. Mittal contribuiu com cerca de US$ 31,4 milhões, quase todo o orçamento do projeto, para que a escultura levasse o nome de sua empresa.

Quase 60% das mais de 2.000 toneladas de aço usadas na construção da "Órbita" são de metal reciclado. Os materiais foram recolhidos nos países de atuação da ArcelorMittal e montados em uma fábrica na Inglaterra.

Em 2010, Kapoor e Balmond, que trabalhavam na empresa de projetos e engenharia Arup (conhecida por seu trabalho no Centro Pompidou, em Paris, na Ópera de Sydney e no Estádio Olímpico Ninho do Pássaro, em Pequim), venceram a concorrência para projetar algo que acrescentasse encanto aos estádios e prédios brancos que formam o Parque Olímpico.

Eles encontraram inspiração na Torre de Babel e na Torre Tatlin, uma massa de ferro, vidro e aço em forma de hélice projetada pelo arquiteto russo Vladimir Tatlin, que nunca foi construída. "Pensamos que Londres precisava de algo com muita energia", disse Balmond. "Essa ideia representa fluxo, mudança."

Ao visitar a torre, as pessoas caminham embaixo de uma abóbada em forma de cone cor de ferrugem e entram em elevadores com vidraças que os carregam até uma plataforma de observação no segundo andar.

Mittal doou a "Órbita" para a Corporação de Desenvolvimento Patrimonial de Londres, que será responsável por transformar o Parque Olímpico em uma área habitacional depois dos jogos, com parques, comércio e um centro aquático reformado.

A "Órbita" servirá como peça central de um pavilhão público com capacidade para abrigar eventos corporativos e exposições de arte e receber até um milhão de visitantes por ano.

Depois de um amigo descrever a "Órbita" como uma conjuntivite, o londrino Benjamin Tucker disse no Twitter que "seria preciso muita mais do que a torre para infectar a zona leste de Londres. Stratford é um lixão!"

"Temos uma visão engraçada da arte pública por aqui"

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.