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As dificuldades de quem é mãe e empresária

Por HANNAH SELIGSON

Um grupo de mulheres está provando que é possível lançar uma startup de sucesso e ter filhos, tudo ao mesmo tempo. Mas boa parte do mundo de negócios, dominado por homens, ainda é cética em relação a isso.

Quem diz isso é Divya Gugnani, fundadora e presidente-executiva do Send the Trend, site de comércio eletrônico de acessórios e artigos de beleza adquirido pela QVC, empresa especializada em "home shopping" pela televisão. Gugnani levantou US$ 3 milhões com investidores antes de engravidar de seu filho, que nasceu em maio.

"Todas as mulheres que conheço que arrecadaram dinheiro fizeram isso enquanto não tinham filhos", diz ela. "No mundo das startups ocorre uma discriminação total contra gestantes."

Existem menos empreendedoras que empreendedores, e elas levantam menos dinheiro que eles. As mulheres compõem 10% do número de fundadores de empresas de tecnologia de alto crescimento "e levantam 70% menos dinheiro que os homens, devido à sua dificuldade de acesso ao capital", diz Lesa Mitchell, da Fundação Ewing Marion Kauffman, onde é vice-presidente de iniciativas para a inovação.

Carley Roney, 43, é mãe de três filhos e co-fundadora da XO Group, empresa de mídia avaliada em US$ 300 milhões. Ela diz que os capitalistas de investimentos costumam afirmar que o fato de uma empreendedora ser ou não mãe não é um fator levado em conta, que o que lhes interessam são as boas ideias e a boa administração. "Mas posso garantir que, atrás de portas fechadas, isso é levado em conta, sim."

É por isso, diz ela, que "naqueles primeiros momentos de ter uma empresa e um bebê, a gravidez era um segredo total".

Nas startups, que não possuem muita infraestrutura corporativa, os fundadores normalmente fazem o trabalho de ao menos cinco pessoas. "A expectativa quanto à sua dedicação, especialmente se você é fundadora, é que você faça isso e mais nada", Roney explica.

Jennifer Fleiss, 28, é co-fundadora do site de aluguel de vestidos e acessórios Rent the Runway. Ela conseguiu US$ 15 milhões em financiamento no ano passado, pouco antes de dar à luz. Fleiss diz que, se estivesse grávida quando promoveu a empresa na primeira rodada de financiamento, teria conversado com mentores e assessores sobre como divulgar esse fato.

Aileen Lee é sócia da Kleiner Perkins Caufield & Byers, empresa de capital de investimentos de Menlo Park, Califórnia. Ela ponderou: "Se um profissional fosse fazer uma cirurgia que o afastasse do trabalho por três meses, isso seria algo a ser estudado fosse o profissional homem ou mulher. Qual é o impacto de ter um CEO ou visionário fora de ação por três meses?"

Lee diz que, para ela, a gravidez não é um fator negativo e que ela apoia empresas de olho no longo prazo. Das 11 firmas em seu portfólio, três são comandadas por mulheres com filhos. Uma delas é a Rent the Runway.

Jessica Herrin, 39, tem duas filhas e é fundadora e presidente da Stella & Dot, empresa de vendas sediada em San Francisco e com receita anual de mais de US$ 100 milhões. Ela comentou: "Eu não queria que alguma empresa de capital de investimentos definisse a rapidez e o timing de crescimento de minha empresa, no momento em que eu tinha dois filhos pequenos e ainda estava amamentando".

Em vez disso, ela procurou alguns investidores individuais que tinham apostado em sua empresa anterior, a WeddingChannel.com, e levantou US$ 350 mil (a WeddingChannel foi comprada pelo XO Group em 2006).

Herrin diz que, antes de aceitar um cheque, disse a Doug Mackenzie, seu investidor na Radar Partners: "Esta companhia terá um crescimento inicial mais lento do que teria de outro modo, porque quero levar minha filha à aula de natação nas tardes de sexta-feira".

Os maridos de Fleiss, Roney e Gugnani têm empregos de alto nível. Nenhum deles é o tipo de pai que ficaria em casa para cuidar dos filhos. Os recursos financeiros dos dois são suficientes para que eles paguem pessoas para cuidar de seus filhos.

Herrin e outros dizem que, para que tudo funcione a contento, é preciso contar com babás, sogras, amigos, baby-sitters e maridos participativos. Viver perto do escritório, de modo a poder ir trabalhar a pé, também ajuda.

Se não investirem em companhias comandadas por mulheres, os investidores poderão ficar em desvantagem. Isso porque "as mulheres vão ser uma força enorme no desenvolvimento de empresas on-line", diz Aileen Lee, da Kleiner Perkins.

Ou, nas palavras de Carley Roney, "as mulheres vão propor as melhores ideias para mulheres, que estão sendo os motores de nossa economia".

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