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Por apenas uma noite, a Síria em revolta

Por NEIL MacFARQUHAR

BEIRUTE, Líbano - O dramaturgo sírio Mohammad al Attar, 31, considera um pouco exagerada a sabedoria comum sobre o levante em seu país, que diz: "O medo terminou".

"O medo perdura, mas o tipo que manteve os sírios em silêncio durante décadas se transformou em algo diferente", disse Atar em um café em Beirute. "O medo é um instinto humano, mas ele não impede mais as pessoas de fazer as coisas."

Esse é um dos temas que o dramaturgo explora em sua peça sobre a rebelião, "Você Poderia Olhar para a Câmera, Por Favor?", que foi encenada no mês passado no Teatro Sunflower, em Beirute.

Foi um acontecimento notável por vários motivos: houve só uma apresentação. Ela fez acusações de tortura e outros abusos cometidos pelo governo do presidente Bashar Assad em Beirute, onde uma pequena comunidade de ativistas sírios vive com medo da polícia secreta. Parte do público veio de Damasco.

Muitos membros da plateia saíram eletrizados pela experiência de ver a rebelião discutida publicamente em uma obra de arte. "Foi catártico porque não era mais algo guardado dentro de todo mundo ou uma conversa sussurrada", disse uma mulher que assistiu a produção.

A peça enfoca a vida de quatro jovens de Damasco. Noura, uma mulher cuja família enriqueceu há muito tempo por causa de suas ligações com o governo, decide que seu papel na rebelião será o de filmar o depoimento dos ativistas torturados. Seu irmão, Ghassan, um próspero advogado, considera o projeto uma loucura. Zeid e Farah são dois ativistas que participam do filme.

Attar disse que a peça começou com os testemunhos de dez pessoas que ficaram presas na Síria.

"Eu escutei suas histórias e fiquei obcecado", disse.

Mas, como um nativo de Damasco formado em teatro na Inglaterra, ele soltou seus instintos para produzir um drama em vez de um documentário. Criou um conflito entre os dois irmãos enquanto Noura se afasta da família para encontrar um papel na oposição.

Existem obstáculos para se criar arte rebelde. O diretor e quase todos os atores vivem em Damasco, onde ensaiaram durante seis semanas. Eles decidiram que trabalhar em segredo seria mais perigoso do que esconder-se à plena vista, por isso se reuniam em um teatro.

Os ensaios em Damasco foram "difíceis e estranhos", disse Nanda Mohammad, a atriz que interpretou Noura, mas o diretor e os atores decidiram que valia o risco, pois a peça destilava o que eles sentiam.

"Precisamos falar sobre essas questões e lidar com elas", disse Mohammad.

"Teremos que conviver uns com os outros depois que o regime cair, e precisamos de uma base para nossa vida futura."

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