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Glamour nas bancas do Paquistão

Por DECLAN WALSH

KARACHI, Paquistão - As celebridades e a moda podem salvar o Paquistão da sua imagem sombria? Sim, se depender da "Hello! Pakistan", nova e glamourosa revista que mostra a vida dourada da elite local.

A publicação já reabriu um velho debate sobre o papel da elite numa sociedade tão conturbada como a paquistanesa.

A "Hello! Pakistan" é a versão local da revista britânica de celebridades "Hello!", famosa por suas entrevistas açucaradas com astros do cinema e pelas fotos suntuosas com nobres de segundo escalão. Mas os editores paquistaneses prometem algo diferente: uma ênfase ao "lado suave" do país, rompendo com o persistente foco ocidental nas burcas, bombas e no Taleban.

"Não estamos aqui para salvar o mundo", disse a publisher da revista, Zahraa Saifullah Khan, 29, uma paquistanesa educada na Inglaterra.

"Nosso ponto de partida é mostrar que não somos todos um bando de terroristas barbados."

A revista reafirma a força da cultura das celebridades que floresceu na última década no país, apesar das turbulências políticas e da violência extremista.

Mas badalar os ricos e famosos pode ser algo polêmico em um lugar com um vertiginoso abismo social e uma economia combalida, onde grande parte da riqueza deriva de heranças, contatos ou corrupção e onde o escalão superior da sociedade é famoso por não pagar sua parcela justa de impostos -ou não pagar imposto nenhum.

O interesse pelas celebridades ligadas à moda decorre do esvaziamento de outras formas de expressão.

Enquanto Bollywood domina a cultura pop indiana, a indústria cinematográfica paquistanesa foi esmagada por nacionalistas islâmicos.

Escritores paquistaneses se destacam no exterior, mas têm pouco reconhecimento doméstico. A ameaça da violência islâmica desestimula shows e eventos esportivos.

Na opinião de Faiza Sultan Khan, crítica e editora literária, o vácuo resultante disso leva os paquistaneses a direções conflitantes -para a religião ou para o consumismo ocidentalizado. "O consumismo se tornou uma forma de arte, e a moda está respondendo a isso", afirmou ela.

Zahraa Khan, a publisher da "Hello!", disse que as vendas -saudáveis 15 mil exemplares por edição- falam por si. "É fácil sentar numa sala de visitas e se lamuriar de tudo que tem dado errado no Paquistão. É preciso fazer a sua parte."

Outros ficam desconfortáveis com a realidade que a "Hello!" retrata. Porém, em um país marcado pelas sombrias forças da intolerância, muitos estão felizes por sua mera existência.

"Os ricos habitam uma realidade paralela em qualquer lugar, embora no Paquistão sua opulência pareça excessiva porque a classe média é atrofiada demais", disse Moni Mohsin, escritora especializada em sátiras sociais.

"Mas, se houvesse uma escolha cabal entre a vida nas páginas da 'Hello!' ou a que Osama bin Laden iria querer para nós, eu ficaria com a 'Hello!'. Ela poderia me enlouquecer, mas todo mundo tem direito a uma festa."

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