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Tel Aviv journal

Aprendendo hebraico nas ruas

Aulas do idioma surgem de protestos políticos nas ruas

Por JODI RUDOREN

TEL AVIV - As aulas de hebraico de Guy Sharett são dadas em uma classe ambulante, com um currículo em constante mutação de grafites e outros dizeres nas ruas e becos de Florentin, bairro em Tel Aviv.

"Saia da frente da TV, comece a viver", Sharett traduziu de um slogan rabiscado em hebraico no início da aula, acompanhado por uma dezena de estudantes sedentos para compreender a vida das ruas da cidade, assim como uma antiga língua falada.

Os estudantes querem termos que possam usar na vida cotidiana.

Em uma recente excursão de grafite, Sharett puxou um pequeno quadro branco para explicar a inscrição à sua frente. A primeira parte do slogan, "Tzay mayhatelevizia", usava o imperativo -saia-, enquanto "tatchil lichayot" -começar a viver- estava no tempo futuro. "Para nós parece tão pomposo e arcaico", ele explicou, "por isso apenas usamos o futuro."

O passeio incluía um aluno chinês de pós-doutorado, um funcionário do Google de 28 anos de Rhode Island, um analista financeiro e poeta casado com uma israelense, um professor britânico que vive em Israel há 20 anos, uma professora de redação criativa que está no país há dois anos e um professor de política do Oriente Médio da Universidade da Cidade de Nova York que estava de férias.

Alguns minutos antes, eles tinham analisado uma placa que mandava os donos de cachorros não deixarem seus animais evacuar perto de um certo edifício. Também havia a imagem icônica de uma criança abandonada do gueto de Varsóvia, com a legenda "Não me deporte", reutilizada para a atual crise dos imigrantes africanos que inundam o sul de Tel Aviv.

"A leitura depende de um conhecimento cultural que você não possui necessariamente", disse Marcela Sulak, uma estudante que dirige um programa de redação criativa na Universidade Bar-Ilan. "O professor ensina as ferramentas para que você possa descobrir por conta própria o significado. Você está aprendendo o hebraico de que precisa enquanto olha para o bairro."

As aulas de uma hora, que custam 50 shekels (US$ 12), são organizadas no Facebook. Elas surgiram dos protestos do último verão, quando os alunos de hebraico tradicional de Sharett ficaram confusos com as placas no acampamento ao longo do Rothschild Boulevard. Depois que as tendas de protesto caíram, Sharett decidiu fazer dos muros cheios de grafite de seu bairro o novo manual.

"Não é apenas ensinar a língua, é também ensinar a cultura", explicou Sharett. "Alguém pegou uma frase de uma canção que todos conhecemos e mudou uma palavra -é muito difícil entender isso se não houver um morador local para explicar."

Sharett, 40, tem um emprego fixo em uma companhia de televisão, mas dá aulas particulares de hebraico há vários anos.

"A política das ruas é onde a língua vive", disse o aluno que trabalha como professor de política do Oriente Médio, Dov Waxman, 37. "Na maioria dos lugares, o grafite é tagging ou arte. Aqui, você pode realmente ler a política. Eu ando por aí e olho sozinho, mas nem sempre entendo tudo."

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