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Incentivos para motoristas que evitam congestionamentos

Usando prêmios, e não multas, para aliviar o trânsito

Por JOHN MARKOFF

PALO ALTO, Califórnia - Londres, Cingapura, Estocolmo e algumas outras cidades combatem o trânsito pesado com a chamada "taxa de congestionamento" -um valor que é cobrado dos motoristas que trafegam em áreas de grande movimento em horários de pico.

Os motoristas geralmente odeiam essa ideia, e os esforços de adotar um sistema parecido nos nos Estados Unidos sempre fracassaram.

Balaji Prabhakar, professor de ciência da computação da Universidade Stanford, na Califórnia, acha que existe uma outra solução.

Alguns anos atrás, preso num engarrafamento em Bangalore, na Índia, ele refletiu que há mais de uma maneira de levar motoristas a mudarem seus comportamentos. Taxas de congestionamento são penalidades. Por que não experimentar o uso de incentivos?

Neste ano, com a ajuda de uma dotação de pesquisa no valor de US$ 3 milhões do Departamento Federal de Transportes, Stanford pôs em ação um sistema projetado pelo grupo de Prabhakar. Com o sistema, as pessoas que vão de carro ao campus da universidade, onde o trânsito sempre é pesado, podem participar de uma loteria diária, com a possibilidade de receber até US$ 50, se trafegarem em horários que não sejam os de pico.

O programa está sendo bem recebido, e será ampliado para incentivar as pessoas a estacionarem longe dos locais mais concorridos.

Amaya Odiaga, diretora de operações comerciais do departamento de educação física de Stanford, agora vai de carro ao campus alguns minutos antes de seu horário usual. Ela diz que já ganhou US$ 15 na loteria e passou a gastar apenas 7 minutos no trajeto, em vez dos 25 minutos anteriores.

Prabhakar já conduziu vários experimentos usando incentivos para levar as pessoas a mudar seus comportamentos. Diferentemente das taxas de congestionamento, que são obrigatórias para todos e geralmente precisam de legislação para serem impostas, "os incentivos podem ser iniciados de forma incremental e são voluntários", disse ele.

Cingapura estuda a possibilidade de adotar um sistema criado por ele e seus alunos, oferecendo participação numa loteria ou um desconto na tarifa a passageiros dos transportes públicos que andem fora dos horários de pico. Um teste do sistema iniciado em janeiro reduziu em mais de 10% o uso dos transportes públicos nos horários de pico.

Mas Charles Komanoff, especialista em transportes que criou um modelo computadorizado do trânsito de Nova York, disse que tem reservas em relação a sistemas de incentivo como alternativa às taxas de congestionamento.

"Os incentivos são pequenos demais", disse. "Incentivos pequenos não vão mudar as decisões tomadas por motoristas em Nova York e San Francisco. Ainda é necessário que existam desincentivos, penalidades.

Para Prabhakar, as taxas de congestionamento e seu sistema de incentivos não precisam ser excludentes. Ele observou que mesmo uma redução pequena dos veículos num horário dado pode ter um grande efeito no trânsito.

E, inversamente, acrescentou Frank Kelly, matemático da Universidade Cambridge especializado em redes de trânsito, "quando o sistema está perto de um nível crítico, aumentos muito pequenos no tráfego podem gerar atrasos para todos".

Para Prabhakar, a força de seu método está no fato de que uma mudança apenas pequena pode ter um efeito grande.

"Este é um dos problemas mais agradáveis", disse ele.

"Não é preciso mudar o comportamento de todo o mundo. Na verdade, será melhor se nem todos mudarem."

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